TEME-SE VOLTA DA COVID NA BAHIA
Foto: Paula Fróes
É bastante provável que, nesse momento, o leitor conheça alguém com covid, tenha diagnóstico positivo para a doença, foi infectado e ainda não sabe ou esteja sob altíssimo risco de contraí-la. Antes que a afirmativa seja tratada como exagero ou excesso de paranoia, ela é mais real do que parece para quem mora em Salvador. A prova definitiva veio na sexta-feira (07), quando o secretário municipal da Saúde, Leo Prates, alertou que o quadro atual da pandemia na cidade é de “descontrole epidemiológico”, com o avanço acelerado de uma nova onda nos primeiros dias de 2022.
O panorama apontado pelo secretário se baseia inteiramente em números contabilizados desde o início de janeiro. Sobretudo, o fator RT, usado para medir a taxa de transmissão do vírus. “Estamos com RT de 1,1. É a primeira vez depois de muito tempo que ele passa de 1 em Salvador. Isso significa que a doença está em aceleração”, afirmou Léo Prates, cujos pais estão infectados. Quando o índice ultrapassa tal marca, rompe-se a margem de segurança. Trocando em miúdos, cada paciente com coronavírus vai transmiti-lo para mais de uma pessoa. No fim da tarde de sexta, havia atingido 1,2 – recorde de toda a pandemia na capital.
Outros dois dados comprovam a velocidade da nova onda em Salvador, deflagrada após as festas de fim de ano, época em que a população relaxa em relação às medidas de segurança e aos protocolos voltados a conter a pandemia. Um deles é o balanço de testes rápidos realizados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No posto do Bonfim, por exemplo, a cada 217 exames feitos em dezembro, três davam positivo. Na última quarta-feira 05), o número saltou para 30. Já na manhã do dia seguinte, de quatro diagnósticos, um confirmava a doença. A ocupação de leitos pediátricos vai na mesma direção.
Na segunda-feira passada, a ocupação nessas unidades atingiu 100%. “Mas a gente deu uma reforçada na equipe de giro de leitos, para que a criança com condição não demore tanto para ter alta. Nessa época, faz diferença. Aí conseguimos baixar para 85%”, disse o chefe da SMS. A perspectiva, no entanto, é de que o quadro piore ainda mais. “A projeção é de uma aceleração da pandemia no final de janeiro em todo o Brasil, principalmente com a Ômicron”, emendou. Com isso, cresce o temor de que o número de casos graves e mortes volte a subir.
“A gente pode enfrentar um nível de agravamentos e óbitos que nunca tivemos, porque nosso buraco de vacinação jamais esteve tão grande. É um fator preocupante. A doença em aceleração pode ser um problema gerado pela população. Atualmente, 411 mil pessoas não foram receber a terceira dose, e mais de 200 mil ainda não tomaram a segunda”, explicou o secretário. Para dimensionar a importância da imunização, 80% dos leitos hospitalares destinados para pacientes da covid na rede municipal estão ocupados por pessoas não vacinadas ou com ciclo em atraso.
Avanço simultâneo
O galope da covid vai além de Salvador. Em toda a Bahia, a tendência também se repete. Ao comparar os casos registrados nos seis primeiros dias do ano com o mesmo período de dezembro de 2021, o incremento é de 14,6%. Em relação a novembro, o acréscimo é de 37,40%. De 1º a 6 de janeiro, foram contabilizados 3.097 novos pacientes infectados. Na sexta, somaram-se mais 1.334, o maior número desde 12 de agosto de 2021, quando foram notificados 1.362 casos da doença em 24 horas, segundo balanço da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab). No total, a conta de mortes causadas em 2022 pela covid no estado chegou a 68.
“É necessário fazer a utilização de máscaras, evitar aglomerações, manter o distanciamento físico e a higienização das mãos, além do esquema vacinal. É preciso que a população leve a sério essas recomendações”, alertou a chefe da Sesab, Tereza Paim, ao pedir que a população retome ou continue a adotar cuidados essenciais já conhecidos pela imensa maioria das pessoas. A desatenção quanto a medidas de controle da doença durante o Réveillon é tida como causa mais provável para o salto exponencial do vírus.
Mesmo que o coronavírus não tenha atingido o círculo familiar e social de alguns durante as festas de fim de ano, ele infectou simultaneamente uma quantidade jamais vista de artistas e celebridades. Para citar somente os baianos, a lista inclui a influencer Gabriela Pugliese e os cantores Xanddy, Márcio Victor, Margareth Menezes, Tuca Fernandes, Preta Gil, Durval Lélys e Saulo Fernandes, que anunciaram na sexta o cancelamento do Pranchão, evento previsto para sábado, na Arena Fonte Nova. Fora do estado, há nomes como o sertanejo Gusttavo Lima, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, a cantora Duda Beat, o sambista Dudu Nobre e dezenas de personalidades famosas.