Salvador: facção Comando Vermelho controla entrada e saída na Saramandaia

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Confira os destaques da semana na coluna (IN)Segurança, de Bruno Wendel

Quem trabalha hoje como motorista por aplicativo em Salvador sabe que é preciso escolher bem a corrida antes de aceitá-la. Isso porque as localidades comandadas pelo crime organizado representam o risco de morte iminente à categoria. No bairro de Saramandaia, por exemplo, o Comando Vermelho controla quem entra e quem sai, afim de evitar ser surpreendido por policiais e rivais, que acessam a região se passando por trabalhadores que fazem o transporte de passageiros através de plataformas. Na Rua do Tubo, atrás de uma famosa madeireira, os faccionados, exibindo fuzis e carabinas, abordam, mesmo durante o dia, veículos com os vidros escuros e com mais duas pessoas.

À noite, a regra é clara: a luz interna deve estar ligada e os vidros abaixados, para evitar que o carro seja fuzilado. E foi isso que aconteceu com o motorista por aplicativo Demeval da Silva Oliveira, 59 anos, no dia 2 deste mês, por volta das 20h. Segundo moradores, ele entrou na região e não cumpriu a determinação e acabou morto após o Sandero ter sido crivado de balas. Para a categoria, lidar com presença do poder paralelo é mais que uma mudança na forma de trabalhar. É literalmente uma questão de sobrevivência.

Altos das Pombas x Calabar

Nos últimos dias, as regiões do entorno do cemitério Campo Santo, na Federação, vem sendo alvo de confrontos entre policiais e traficantes. Esse embate já resultou em mortos, reféns, toque de recolher, suspensão de aulas e atendimentos em unidades de saúde, casas abandonadas por moradores desesperados e outras consequências. Mas para entender o que hoje está acontece é preciso relembrar alguns fatos. São dois bairros colados, mas divididos por uma rivalidade histórica entre o Bonde do Maluco e o Comando Vermelho. Tal situação pode ser contada a partir de uma família de criminosos: os Floquet.

A matriarca Selma Floquet foi presa e condenada em 2007. Era aliada de César Lobão, um dos fundadores do extinto Comando da Paz (CP). Depois de várias mortes, o clã perdeu o Alto das Pombas para o BDM e estava concentrada numa pequena parte do Calabar. Porém, ganhou força e recuperou território com a vinda do CV em 2020, absolvendo a CP. E hoje temos as duas maiores organizações criminosas num espaço coexistem, tão quanto o medo de quem vive lá.

Alto das Pombas teve policiamento reforçado. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Uma tática ou media extrema ?

Por que se tornou tão comum durante perseguições policiais criminosos invadirem imóveis, fazer moradores de reféns e transmitir tudo nas redes sociais? Alguns especialistas apontam simplesmente que é uma tática das facções, que foram importadas dos morros cariocas, para evitar um confronto. No entanto, outros mais ligados aos direitos humanos, entendem que esta é a única forma encontrada pelos traficantes de não serem mortos, mesmo quando já rendidos pelas forças de segurança.

Em um dos casos recentes, um homem manteve sob seu domínio uma família – entre elas, crianças – em cárcere privado em meio à tensão do dia 4 no Alto das Pombas. O impressionante é que um momento, a live chegou a 8 mil expectadores . As vítimas foram libertadas e o homem preso. Agora, resta saber se o público foi a favor ou contra o resultado.

Família é feita refém  no Alto das Pombas. Crédito: Marina Silva/CORREIO

CORREIO DA BAHIA

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