Ruas de Xangai, a maior cidade da China, estão vazias após medidas de confinamento – REUTERS – 26.4.2022
Nas últimas semanas, os 26 milhões de pessoas que moram em Xangai, o maior centro financeiro da China, vivem uma dura política de confinamento para controlar o novo surto da Covid na grande potência industrial da Ásia. O município chegou a registrar 3.594 casos da doença em um único dia.
Como principal medida de combate ao novo coronavírus, os chineses implementaram, desde o início da pandemia, períodos de confinamento em cidades que sofriam surtos da doença. Apesar de eficaz, o lockdown de milhões de pessoas acompanha um grande número de problemas.
O professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Mario Dal Poz, que trabalhou por 12 anos junto à OMS (Organização Mundial da Saúde), explicou em entrevista ao R7 que o confinamento em massa é uma resposta apenas no curto prazo.
“Essa medida tem muita eficácia a curto prazo, mas a médio e longo prazos tem problemas importantes. Ela precisaria ser associada com outras medidas. A associação imediata que eles fazem desde o início é testagem. Testagem em massa. Essa é a única maneira de identificar os casos”, afirma Dal Poz.
Forçar milhões de pessoas a ficarem em casa durante semanas é um grande desafio. Uma das maiores dificuldades das autoridades chinesas é criar uma logística para a entrega de alimentos e outros artigos de necessidade básica a todos que estão vivendo em isolamento.
Dal Poz destaca que as duras medidas adotadas na cidade impactam a economia da China e, por consequência, o comércio no mundo. “Xangai é um centro comercial internacional importante de circulação de mercadorias, e já se começa a ter consequências globais.”
Funcionário de delivery deixa alimentos na entrada de condomínio em Xangai – REUTERS – 25.4.2022
Os brasileiros não vivenciaram confinamentos parecidos com os que os chineses enfrentaram desde o início da pandemia. Como comparação, a cidade de São Paulo registrou mais de 1,9 milhão de casos de Covid, enquanto Xangai chegou a 46 mil na última segunda-feira (25).
“O Brasil vive uma situação em que tudo está aberto, o uso de máscara praticamente não é obrigatório, e o comprovante de vacinação deixou de ser exigido. Porém, os números aqui são bem maiores do que os de Xangai”, ressalta Dal Poz.
Para o professor da Uerj, os números da pandemia na China, comparados aos do Brasil, mostram que a medida de confinamento é eficaz, apesar dos diversos problemas e dificuldades que traz consigo.
“Penso que em algum momento eles terão que repensar esse modelo de Covid zero não só porque o mundo abriu, mas porque do ponto de vista econômico é insustentável até para a China, com todos os mecanismos [de controle] que eles têm.”
Vacina chinesa Coronavac foi replicada pelo Instituto Butantã no Brasil – INSTITUTO BUTANTAN/DIVULGAÇÃO