Durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça-feira (22), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a instituição ainda avalia se a atual taxa Selic é suficientemente restritiva para conter a inflação diante do cenário de incerteza gerado pela guerra de tarifas iniciada pelos Estados Unidos. Ele também defendeu a atual política monetária e destacou o dinamismo da economia brasileira como fator de pressão inflacionária.
Com a taxa Selic em 14,25% ao ano, a quarta mais alta do mundo em termos reais, o Brasil está em um ciclo de alta de juros, que pode continuar. Segundo Galípolo, o objetivo é alcançar um patamar que ofereça segurança no combate à inflação. “Estamos tateando agora nesse ajuste. Se já estamos num patamar restritivo suficiente ou não, é o que está em análise”, explicou.
O dirigente argumentou que, embora os juros altos sejam criticados por impactar negativamente setores produtivos, o papel do Banco Central é “frear a economia” quando a inflação se descola da meta. “A inflação acima da meta está bastante disseminada. Nesse contexto, o BC precisa ser o ‘chato da festa’ e conter excessos para evitar uma espiral inflacionária”, afirmou.
Guerra comercial e incertezas externas
Galípolo também abordou os impactos da guerra de tarifas iniciada pelo governo dos EUA, que gerou instabilidade no cenário internacional. Segundo ele, essa instabilidade exige uma postura mais cautelosa do Banco Central brasileiro, inclusive com o aumento do prêmio de risco, que influencia diretamente os juros.
Apesar das ameaças ao comércio global, Galípolo afirmou que o Brasil pode se destacar positivamente pela diversificação da sua pauta comercial e pela força do mercado interno. “Não é que a guerra tarifária melhora nossa situação, mas em comparação com os pares, o Brasil pode parecer um destino mais seguro para investimentos”, disse.
Durante a audiência, senadores voltaram a criticar a condução da política monetária. O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) afirmou que setores como indústria, comércio e agricultura têm sofrido com os juros elevados. Já Cid Gomes (PSDB-CE) foi mais duro ao comparar a lucratividade de 10% oferecida pelo sistema financeiro com a do tráfico de drogas. “Isso é uma mamata”, disse o parlamentar, defendendo a venda de dólares pelo BC para conter o câmbio, como alternativa ao aumento da Selic.
Reforma da política monetária
Galípolo admitiu que há gargalos que limitam a eficácia dos juros no combate à inflação, o que leva à necessidade de aplicar “doses mais fortes do remédio”. Ele sugeriu reformas estruturais, incluindo a redução dos juros pagos pelas famílias e uma regulação mais uniforme para instituições financeiras fora do sistema bancário tradicional.
“Talvez existam canais entupidos de política monetária. Famílias pagam juros muito superiores à Selic e, por isso, não respondem da mesma forma aos ajustes. É necessário rever essas distorções e ampliar a isonomia regulatória no setor financeiro”, declarou.
O presidente do BC sinalizou, portanto, que conter a inflação no Brasil exige mais do que ajustes na taxa de juros — é preciso rever o funcionamento da política monetária como um todo.