Ponto de vista: Vingança, bla-bla-bá e atraso 

Destaque

Joaci Góes

Aos queridos amigos Eva, Antônio e Pablo Mompó! 

Foi melancólica, para dizer o mínimo, a solenidade dos primeiros 100 dias do novo governo federal. Nada, absolutamente nada, foi apresentado como digno de celebração. Bem ao contrário: o que se vê são expectativas de alta inflacionária, estagnação do crescimento econômico, aumento da violência e do desemprego. 12 das 27 montadoras já interromperam a produção de carros, quando os estoques são os maiores dos últimos três anos. Em outras dimensões, o panorama é inquietante: ameaça à paz social, com a ostensiva promessa de lideranças do MST de acelerar o processo de invasão de terras em todas as unidades da federação, fato que intranquiliza o agronegócio, o segmento mais dinâmico da economia brasileira, já apontado pelo novo presidente como alvo preferido a ser combatido, segundo seu discurso populista. Depois de uma interrupção de quatro anos, o Poder Judiciário brasileiro, em geral, e o baiano, em particular, passam a enfrentar o velho desafio de fazer cumprir a lei que garante a propriedade privada.  

Sobre que ações empreender para tirar a educação brasileira da UTI em que se encontra, bem como equacionar o grave problema do saneamento básico que afeta mais da metade da população brasileira, nem uma palavra. Como marcante contribuição para o avanço do atraso, o novo governo anuncia a interrupção do programa de privatizações, indo ao encontro do desejo, segundo pesquisas, de 45% da população brasileira, analfabeta em sua maioria, base de sustentação do novo governo. O populismo que fracassa em toda parte continua sem compreender a decisiva distinção entre poder de autoridade e poder de competência: o primeiro sendo de quem pode e o último de quem sabe. Confundi-los é receita certa de rotundos fracassos. 

De muito positivo, foi divulgada a criação de 36 mil novas lojas virtuais, o que, no entanto, ocorreu ao longo do ano de 2022, segmento em que passamos de 529 mil para 565 mil, comprovando, mais uma vez, o que o mundo civilizado tem testemunhado: nada como a livre iniciativa, apanágio das sociedades abertas, para superar dificuldades e limites, além de assegurar a prosperidade dos povos. 

Miraculosamente recuperado de uma conveniente pneumonia, segundo a crença de muitos, mais convenientemente  imaginária do que real, que lhe permitiu adiar uma portentosa viagem à China e articular ações para minimizar a crise criada com sua ostensiva declaração de que retornou ao poder para vingar-se dos seus inimigos, sobretudo dos que o levaram à prisão, o novo presidente aproveitou o providencial interregno para reduzir sua excepcionalmente numerosa comitiva, uma verdadeira multidão de turistas, para o número recomendado pelo racionalismo diplomático mais elementar. 

Os erros grosseiros cometidos por certas lideranças políticas brasileiras levam-nos a repetir que o homem é o único animal que tropeça mais de uma vez na mesma pedra. O caso que nos vem à memória é o da mesma e grosseira repetição do erro de abrir a boca para falar ou fazer o que lhe der na telha, sem o mínimo cuidado com a elegância, inteligência, discrição ou liturgia do elevado posto. Por esse pecado capital, o dirigente exerce papel altamente deseducativo, eventualmente instigando a aderência dos seus seguidores, ainda que ao preço de consolidar ou mesmo aumentar as restrições e o ódio dos seus adversários. 

Pelo que se apurou nas festividades oficiais dos cem primeiros, não temos nada de positivo a esperar dos próximos 1.360 dias. 

Nunca desejamos tanto estarmos equivocados nesta antevisão que decorre, inelutavelmente, do conjunto da ópera que se apresenta diante dos aterrados olhos da Nação. 

Que Deus se apiede do infeliz e sofrido povo brasileiro! 

JOACI GÓES

Deixe uma resposta