Os últimos acontecimentos deste mês de dezembro consolidaram a crença de que em 2023 o Brasil se transformou no caldeirão do ódio e da vingança, como o presidente anunciou no início do mandato, ao responder a um repórter que o seu principal programa de governo seria vingar-se dos que o mandaram para a cadeia, com o Senador Sérgio Moro, à frente. Diante da brutal evidência, até a grande mídia, comprada para omitir os desmandos que assolam o País, não tem como esconder os números que apontam para recordes na prática de todos os crimes e violências que inundam, degradando, o espírito da Nação. Por tudo isso, o atual governo avança para superar em ineficácia o segundo mandato da Dilma Roussef, consoante o pensamento de argutos analistas.
Manda a verdade, porém, que se diga que ainda vivemos em ambiente, apenas, autoritário, graças a alguma reação do Poder Legislativo que tem evitado o colapso total da democracia e a implantação do mais completo totalitarismo, como só vivemos na ditadura do Estado Novo, com Getúlio Vargas. Não se sabe o que ocorrerá, contudo, se o Ministério da Defesa vier a ser dirigido pela grande especialista em estocagem de vento.
O despudor, no entanto, chegou a ponto de as coisas do governo serem tratadas com critérios de administração doméstica, como se tem visto na escolha de ministros, inclusive para a Suprema Corte, de um modo que tem ofendido o mais coriáceo senso da dignidade jurídica nacional, a exemplo da recusa do jurista Sobral Pinto ao convite de Juscelino Kubitscheck para ocupar uma vaga na Suprema Corte, sobre o argumento de que sua atuação como advogado do, então, governador de Minas representar insuperável óbice ético. Compare-se a olímpica sobranceria desse gesto com o descaramento reinante na Terra de Santa Cruz!
Somos pela utilização de parte dos recursos do orçamento para deputados e senadores destinarem a obras e serviços das comunidades e estados que representam, respeitada, porém, a proporcionalidade entre as respectivas dimensões eleitorais. Não há como justificar que um deputado por uma unidade federada de baixa população, eleito com cinco mil votos, conte com os mesmos recursos de um deputado eleito com um milhão de votos, por um estado de grande população. Na atualidade brasileira, em que não há um preso, sequer, por corrupção, como resultado da aplicação do princípio isonômico da impunidade para crimes do colarinho branco, conforme o mau exemplo que veio do alto, é mais do que previsível o uso licencioso, pela parcela corrupta dos parlamentares (estima-se entre metade e dois terços), desses recursos para benefício pessoal, já previamente assegurada a impunidade, de modo a preservar o nosso primado como a maior e mais avançada entre as Repúblicas de Bananas.
Aos 53 bilhões de emendas parlamentares, um recorde histórico, somam-se 4,9 bilhões para financiar as eleições municipais de 2024. Para ilaquear a estupidez da patuleia ignara, figura a exigência de que metade desses recursos seja aplicada em obras ou serviços destinados à saúde. Nada que impeça parlamentares ladrões de contratarem serviços superfaturados, em troca do recebimento de propinas milionárias, como ficou provado pela Operação Lava-Jato cujo criminoso extermínio zerou o placar, levando a que a roubalheira, como princípio de governança, venha a reinstalar-se, com força total.
É doloroso constatar o quanto de longevidade e qualidade não seria acrescido à parcela sofrida da população brasileira, sem acesso a saneamento, cuja média de vida é de 54 anos, contra 79 anos das populações atendidas por esse serviço básico, caso tivéssemos, à frente dos órgãos do Estado, estadistas, comprometidos com as próximas gerações, em lugar de políticos populistas que só atuam de olho nas próximas eleições.
Em nome da verdade, é imperioso reconhecer que a nossa Suprema Corte merece o crédito de haver ampliado de três para quatro as categorias susceptíveis de expiar seus crimes no xilindró, todas iniciadas com a letra p: pretos, pobres, putas e, a partir do 08 de janeiro passado, patriotas.