Ponto de vista: Carnaval: alegria ou catarsis? 

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Joaci Góes

Ao casal amigo Andreia e Almirante Antonio Carlos Cambra! 

A pergunta é antiga, embora de gritante atualidade, para um povo, o brasileiro, que não se peja de haver, historicamente, realizado tão pouco, diante de suas enormes possibilidades; a tal ponto que estamos entre as nações de mais pobre desempenho do Planeta, de padrão haitiano, quando comparamos o que somos com o que deveríamos ser, em razão das enormes riquezas naturais com que fomos dotados pela Providência, situação que ameaça se estender, no tempo, diante da aparente satisfação de eleitores e dirigentes, em face de nossa gritante mediocridade. Na dúvida, ficamos com a percepção de que a grande maioria, embrutecida pela ignorância que a conduz ao conformismo, vai ao carnaval para consumar o que entende como manifestação de desabrida alegria, ao tempo em que os mais bem avisados o utilizam como mecanismo de compensação emocional pelo sentimento de irremediável desvalia.  

Enquanto isso, a festa carnavalesca continua como impávido colosso, anestesiando o senso crítico das massas ingênuas que consomem sem a mínima reflexão o receituário que lhe é prescrito pelos seus vitoriosos gigolôs, na feliz e cáustica expressão de Josué de Castro.  

Nada contra a exteriorização e satisfação dos sentidos da coletividade, desde que prevenido o risco de embotamento de sua sensibilidade para os valores mais caros ao seu crescimento material e espiritual, precisamente o que parece estar ocorrendo, de modo superlativo e patrocinado por quem incumbiria proteger a ingenuidade popular contra o abuso dos que a exploram, para satisfação de seus mais baixos e ferozes apetites. 

Dois exemplos ostensivos podem ser invocados para demonstrar os receios constantes dessa incômoda arenga que já se alonga: a tese que circula de que houve uma tentativa de golpe, no lamentável e condenável episódio do vandalismo contra bens da sede dos três poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro passado, e a renovada disposição do atual governo de continuar aplicando dinheiro público brasileiro, na solução de problemas de países bolivarianos, em prejuízo do desenvolvimento de programas de tão fundamental significado para a grande massa de brasileiros, pobres, doentes e analfabetos, sobretudo, nos setores de educação e saneamento básico.  

Transformar um movimento de insatisfação popular que, ao sair do previsto, perdeu o controle e converteu-se em vandalismo, em tentativa de golpe para derrubar um poder muito bem armado e constituído pelo voto popular, é coisa de imbecis ou de gente visceralmente desonesta. Até porque nunca se viu na história dos povos um movimento revolucionário comandado por tanta gente idosa e tantas crianças, muitos, e desarmados, todos, sem uma arma de fogo, sequer! 

Por outro lado, o Brasil só tem dois problemas dos quais derivam os demais: 1- péssima educação da grande maioria da população, fator que impede a melhoria consistente da distribuição de renda, na sociedade do conhecimento em que estamos imersos, e, 2- falta de acesso a saneamento básico para mais de metade da população brasileira, acarretando-lhe uma vida de baixa produtividade, porque afetada por inúmeras doenças dessa falta decorrentes, e uma longevidade, também, reduzida, como demonstrou a Oxfam (Oxford Famine), em relatório intitulado A distância que nos une, disponibilizado na Internet. Basta comparar a longevidade de 79 anos, dos moradores de Higienópolis, bairro bem dotado de saneamento básico, com os 54 anos de vida dos moradores do bairro popular de Tiradentes, ambos em São Paulo. 

Enquanto pula o carnaval, a maioria dos foliões não sabe que, como produto de sua silenciosa ignorância, há males mais letais do que a Covid, continuamente, acabando com suas vidas e esperanças de futuro!  

TRIBUNA DA BAHIA

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