Operador de juiz não temia ser preso na Faroeste: ‘Sou um homem protegido demais’

Operação Faroeste

OPERAÇÃO FAROESTE

Operador de juiz não temia ser preso na Faroeste: 'Sou um homem protegido demais'

Preso acusado de ser um dos operadores do esquema criminoso investigado na Operação Faroeste, Luiz Carlos São Mateus não acreditava que seria envolvido nas investigações da Polícia Federal (PF). Segundo o próprio revelou em uma ligação captada a partir de um acordo de colaboração premiada, ele era um homem “protegido demais”.

A delação em curso foi feita por um profissional da advocacia, com quem Luiz Carlos falou por algumas vezes para combinar o pagamento de duas cartas de crédito em sacas de soja (saiba mais aqui). Nos encontros, colaborador e operador negociaram um pagamento antecipado estimando cada saca em R$ 100, aproximando a dívida para R$ 1,5 milhão. Durante a conversa, Luiz São Mateus revela que os valores seriam destinados para o juiz Sérgio Humberto de Quadros Sampaio, também preso pela Faroeste. O valor seria para pagar dívidas do juiz, incluindo o aluguel da casa em que residia.

Na primeira conversa captada, no dia 8 de junho deste ano, o delator pergunta então se o homem está com as cartas de crédito, e se elas não foram foram encontradas pela polícia na busca e apreensão na época da prisão do juiz. Luiz então responde: “Não, não. Graças a Deus que nem falaram no meu nome. Também não tinha porque”.

A pessoa responsável pela delação então se mostra preocupada com a transferência de valores tão altos, já que o volume das operações poderia chamar a atenção. Nesse momento, São Mateus diz que está com a vida tranquila e que não quer problema. “Eu graças a Deus sou um homem protegido demais, que no meio desse rolo todo eu nem…”. A pessoa reforça, dizendo que empresas são mais fiscalizadas em relação a movimentações, e ele minimiza: “Mas isso não tem nada não. Eu não tô envolvido em nada não”.

Em outro momento, o operador repete que não quer problema, e garante que é “precavido”. “É tanto que você viu, nessa merda toda aí, eu, graças a Deus, fiquei livre em tudo. […] Eu sei como fazer. Pode ficar tranquila nisso aí. Se tem uma coisa que eu quero é dormir em paz. Nem quero lhe arrumar problema com isso aí”.

A tranquilidade, porém, não era tão forte no dia seguinte, em outra conversa interceptada pela PF. Luiz Carlos diz que uma das empresas que receberiam o valor pelas sacas seria uma imobiliária da cidade de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, que já movimentava normalmente valores mais altos. O delator se mostra receoso com a forma com que o pagamento seria feito para o operador, porque as cartas de crédito tinham estado com outro investigado da Faroeste. É quando ele alerta: “Fala baixo, você não sabe se tem (inaudível).” A pessoa então fala que ele mantém o celular próximo e ele rebate, dizendo: “Eu não. O meu eu troco de quinze em quinze dias”

ACEITANDO O CASTIGO
No diálogo, Luiz chega a chega a dizer que o juiz Sérgio Humberto está “bem, na medida do possível” na prisão, e que está “aceitando o castigo”. Em outra conversa, porém, ele completa:

“Espiritualmente aquele cara é forte demais, né? Mas tá um bagaço. Não tem como tá (sic) bem. Não tem como…”. O delator comenta que acreditava que o juiz seria liberado, quando Luiz revela que “a promessa era de sair, parece que a coisa piorou”. A liberdade não veio, segundo o operador, mesmo que o advogado do magistrado fosse “muito bem relacionado”. “O problema é que não tem como liberar. Que não é só o problema do Sérgio. Já teria liberado ele. São os outros, né?”, sugere, em relação a outras pessoas presas na operação.

Para Luiz, a situação só se resolveria de uma forma: “Tomara que chege lá em cima mesmo. Se chegar a eles, aos grandes, aí eles acabam com isso”.

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