Ex-procurador e deputado federal eleito se refere a possível articulação de empreiteiras para cancelar acordos de leniência
O deputado federal eleito Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-procurador federal e ex-coordenador da Operação Lava Jato, está preocupado com o eventual cancelamento de acordos de leniência firmados no âmbito da operação, deflagrada em 2014.
“Não vai sobrar nada da Lava Jato”, disse em postagem no Twitter, ao compartilhar uma reportagem de O Globo, sobre uma possível articulação de empreiteiras e outras empresas investigadas por corrupção para pedir ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a revisão dos acordos de leniência.
“O governo Lula poderá rever os acordos de leniência da Lava Jato e bilhões de reais recuperados aos cofres públicos voltarão para o bolso de quem roubou a República e corrompeu a democracia. Não vai sobrar nada da Lava Jato. Tudo certo na normalidade democrática”, escreveu o deputado eleito, citando a reportagem.
Segundo Dallagnol, “se essa revisão de fato acontecer, o instituto do acordo de leniência será ferido de morte e nenhuma empresa jamais fará acordo novamente, preferindo confiar na impunidade que é a regra no Brasil”.
Durante a Lava Jato, diversos empresários aceitaram fazer delação, confessando seus crimes, devolver somas vultosas recebidas em acordos de corrupção na Petrobras e pagar multas bilionárias para trancar o processo criminal.
Agora, sentindo que o panorama político mudou, estariam, segundo a reportagem de O Globo, que não cita fatos específicos ou nomes de empreiteiras, fazendo uma articulação, nos bastidores, com membros da equipe de transição, para cancelar ou pelo menos reduzir as multas.
Isso poderia ser discutido no próximo governo, na Controladoria Geral da União (CGU), órgão responsável pelos acordos de leniências. As empresas pretendem alegar que lideranças políticas estão sendo absolvidas ou tendo acusações rejeitadas, como aconteceu recentemente com o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG).
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou, por unanimidade, a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O relator, Edson Fachin, entendeu que a denúncia era “genérica” e a própria PGR mudou de posicionamento e defendeu a rejeição da denúncia que ela mesma apresentou.
Lula promete crise moral e econômica. Vejam-se as medidas “contra a corrupção” até agora: viagem em jatinho de empresário, Zanin como chefe do grupo de combate à corrupção e muitos delatados, investigados e até condenados na equipe de transição
As empresas também devem alegar que, proibidas de fechar contratos com o poder público, pelo passado de corrupção, e com as multas elevadas, aplicadas inclusive pelo Tribunal de Contas da União (TCU), seu futuro estaria em risco e, com isso, muitos empregos poderiam ser perdidos.
Durante a campanha, Lula, em discurso e entrevistas disse que a Lava-Jato “quebrou empresas”, trouxe desemprego e afastou investimentos e arrecadação. Dallagnol termina a série de tuítes dizendo que “Lula promete crise moral e econômica”. “Vejam-se as medidas “contra a corrupção” até agora: viagem em jatinho de empresário, Zanin como chefe do grupo de combate à corrupção e muitos delatados, investigados e até condenados na equipe de transição”, finalizou.
REVISTA OESTE