Mortes por Covid caem 79% no Brasil, redução menor do que em outros países

COVID19
Mortes por Covid caem 79% no Brasil, redução menor do que em outros países
                                     Foto: Reprodução / Governo do Ceará

 Apesar da forte queda no número de mortes por Covid nos últimos meses, o Brasil é um dos países que menos reduziram óbitos ao longo de 2021, na comparação com outras nações que também enfrentaram momentos difíceis na pandemia.

 

Do lado positivo, houve neste ano no Brasil uma redução maior do que a que ocorreu entre julho e dezembro de 2020, quando os números pareciam apontar para o fim da pandemia —até a chegada da variante gama, surgida no Amazonas, e da maior crise de saúde que o país viveu.

 

Agora, o Brasil tem a seu favor a campanha de vacinação, que já atingiu 64% dos brasileiros com ao menos uma dose. Na comparação com o pico da pandemia de 2021, em 12 de abril, a média móvel de mortes da segunda (30) era 79% menor.
 

Mas a combinação de parcelas grandes da população com o esquema vacinal ainda incompleto, relaxamento de medidas de prevenção e a nova variante delta, altamente contagiosa, acendem a luz amarela para os dias que virão. A experiência de outros países, como Israel, Reino Unido e Estados Unidos, indica que, sem os devidos cuidados, pode haver nova alta de óbitos por aqui.
 

A reportagem analisou dados de 15 países entre os recordistas de mortes (em números absolutos ou proporcionais à população). São eles: Brasil, Itália, Bélgica, Franca, Reino Unido, Israel, Eslováquia, Estados Unidos, Líbano, México, Portugal, Croácia, República Tcheca, Bósnia-Hezergovina e Alemanha.
 

A comparação leva em conta o ponto mais alto da média móvel de óbitos, que no Brasil foi registrado em 12 de abril, comparado com os números desta segunda (30) —140 dias depois do pico, portanto.
 

No período mais crítico, a média móvel chegou a 14,6 mortes por milhão de habitantes (ou 3.225, em números absolutos). Agora, está em 3,1 por milhão (672, em números absolutos).
 

Foi uma queda maior do que a registrada em 2020. No ano passado, o ponto mais alto da pandemia foi em 25 de julho, quando a média móvel de óbitos foi de 5,1 por milhão (1.097 no total). Em dezembro, 140 dias depois, a métrica sofreu diminuição de 41% —chegou a 3 por milhão (643 em valores absolutos).
 

Além da vacinação que existe agora, mas não havia em 2020, um fator aritmético também ajuda a explicar a maior queda em 2021: o número maior de óbitos agora facilita reduções percentuais maiores.
 

De qualquer forma, embora a redução observada seja expressiva, dentre os 15 países analisados, somente Bélgica e Croácia tiveram uma queda menor nas mortes, quando considerados o pico da pandemia neste ano e a média móvel registrada 140 dias depois.
 

Nos demais países, como Estados Unidos, Alemanha, Itália, Portugal, México e República Tcheca, as reduções passam de 84%.
 

A Bélgica, que chegou a ser recordista em mortes por milhão de habitantes no início da pandemia, teve menos sobressaltos em 2021. O ponto com mais mortes foi em janeiro, quando o país passava por uma desaceleração após uma segunda onda de casos.
 

Naquele momento, a média móvel chegou a 6,3 por milhão, ante 1,6 em maio —queda de 75%. Por lá, o esquema completo de vacinação contempla 70% da população.
 

Na Croácia, o período mais crítico foi em janeiro, após um 2020 razoavelmente tranquilo. Em maio, a média móvel havia caído 54%, e os meses seguintes repetiram a tendência de queda.
 

Neste momento, o país enfrenta, como tantos outros na Europa, uma onda de novos casos, e houve pequena alta nas mortes. A Croácia é um destino tradicional do turismo na região, famosa por suas praias não raro lotadas.
 

Os croatas, contudo, estão em situação menos confortável em termos de vacinação do que portugueses, italianos, espanhóis ou alemães, onde também há uma terceira onda. Têm 40% da população vacinada com as duas doses, enquanto nos demais países a cobertura vacinal completa já atinge mais da metade dos habitantes.
 

A chegada da variante delta, mais contagiosa, foi acompanhada de alta de casos e mortes em países do mundo todo. Isso aconteceu mesmo naqueles em que há grande proporção de vacinados, embora, em geral, o salto de mortes seja muito mais controlado nesses locais.
 

Levantamentos mostram que há perda da eficácia das vacinas frente à mutação. Esse efeito é maior em relação ao risco de infecção pelo vírus, mas significativamente mais discreto para hospitalizações e mortes. Ou seja, a vacina continua sendo bastante eficaz para evitar casos graves, mesmo diante da delta.
 

No Brasil, boletim recente da Fiocruz indica que a atual tendência de queda de casos e óbitos pode se reverter muito em breve. A análise dos pesquisadores apontou que nove estados têm alta probabilidade de apresentar aumento de infecções. São eles: Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
 

No Rio de Janeiro, por exemplo, houve um repique de mortes, após meses de queda. A média móvel do último dia 30 é 58% menor do que no pico da pandemia, mas 30% mais elevada do que há duas semanas.
 

Para tentar minimizar o possível impacto da delta, o Ministério da Saúde recomendou a administração de uma terceira dose da vacina em idosos de 80 anos ou mais que tenham completado o esquema de vacinação há pelo menos seis meses. Nessa população, os imunizantes tendem a ser menos efetivos e podem perder parte da proteção com o tempo (entenda as razões para a terceira dose).
 

Além disso, deve ser reduzido para oito semanas o intervalo entre as doses das vacinas Pfizer e AstraZeneca, atualmente de 12 semanas. A ideia é ampliar a parcela de brasileiros com a imunização completa.
 

As medidas passam a valer oficialmente a partir de 15 de setembro, mas há estados que já adotaram as mudanças.

por Diana Yukari e Flávia Faria | Folhapress

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