Militares reclamam de fala de Lula sobre uso das Forças Armadas

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Foto: Arquivo / Reprodução/Ricardo Stuckert

A novela da dificuldade na relação de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje o favorito para ganhar a eleição presidencial de outubro, com as Forças Armadas ganhou mais um capítulo desfavorável para o líder petista.
 

Cai mal entre círculos de oficiais-generais da ativa e da reserva uma fala do ex-presidente acerca de sua visão sobre o papel dos militares.
 

“O Itamaraty será aquilo que o governo decidir que ele seja. Como as Forças Armadas serão, como todas as instituições do Estado, serão aquilo que o governo quiser que seja”, afirmou Lula durante um evento na noite de segunda (22) em São Paulo.
 

Segundo membros do alto escalão das Forças ouvidos pela reportagem, a frase explicita uma falta de compreensão do que é uma instituição de Estado e repete a visão do presidente Jair Bolsonaro (PL), que é objeto de condenação por críticos e mesmo nos meios militares.
 

O atual mandatário, capitão reformado do Exército, sempre utiliza a relação para reforçar a ideia de comando sobre os fardados -que, de resto, é uma obviedade constitucional. O que não é natural é entender que as Forças estão aí para realizar desejos do governante, como Bolsonaro faz ao insinuar que elas irão chancelar ou não a lisura das urnas eletrônicas.
 

Em 2020, o então comandante do Exército, Edson Leal Pujol, chegou a afirmar que não deixaria a política entrar nos quartéis -seu antecessor, Eduardo Villas Bôas, dizia o mesmo, embora tenha sido um dos grandes protagonistas da politização dos militares sob Bolsonaro.
 

Foi o general que, em 2018, gerou celeuma ao ameaçar veladamente o Supremo Tribunal Federal a não conceder um habeas corpus a Lula, que teria evitado os 580 dias de prisão do petista no âmbito da Operação Lava Jato.
 

O ato, pleonástico dado que a corte estava decidida a não conceder o benefício, acabou por romper de vez os contatos entre o PT e os fardados, ajudando a jogar a categoria no colo da candidatura Bolsonaro. Com o antigo militar indisciplinado tendo a vitória encaminhada no segundo turno, a bênção foi dada e diversos generais da reserva e oficiais da ativa integraram seu governo.
 

Houve benesses e ocupação da máquina pública por fardados numa proporção antes desconhecida, mas crescentemente o serviço ativo tentou se separar da chamada ala militar do governo.
 

Deu no que deu. Em 2021, a cúpula das três Forças e o ministro da Defesa caíram justamente por entrar em choque com o voluntarismo presidencial, ao se negarem a serem instrumentalizados por Bolsonaro no seu embate com governadores acerca do manejo da pandemia da Covid-19.
 

De lá para cá, houve docilidade e apoio do Ministério da Defesa ante os desígnios bolsonaristas. Walter Braga Netto mostrou-se tão engajado que acabou levando a vice na chapa do chefe este ano. Seu sucessor, o ex-chefe do Exército Paulo Sérgio Nogueira, foi no mesmo caminho apoiando a campanha do presidente contra as urnas.
 

Esse reposicionamento reforçou a ideia de que Bolsonaro tem tal controle personalista sobre os militares, o que não se reflete por exemplo no Alto-Comando do Exército. Lá, apenas 2 ou 3 de 16 generais já se expressaram recentemente de forma algo dúbia sobre o sistema eleitoral, mas sem apoiar rupturas.
 

A fala do presidenciável entra nesse contexto. Se é evidente que o presidente é o comandante supremo dos militares, o “fazer o que o governo quiser” é um passo além no mínimo pela ambiguidade da formulação, e ajuda a manter polares as relações entre o ex-presidente e a categoria.
 

Lula é visto, pela média do generalato, com desconfiança devido à associação que é feita entre a gestão petista e casos de corrupção, além dos entrechoques institucionais quando Dilma Rousseff (PT) era a presidente.
 

Reservadamente, oficiais-generais seguem insistindo na linha pública, expressa pelo comandante da Força Aérea, Carlos de Almeida Baptista Junior, de respeito constitucional ao resultado da eleição. Mas não são poucos os interlocutores de Lula que, sabendo do azedume na cúpula da Defesa com o petista, preocupados com a relação em caso de vitória.
 

Hoje, a ideia é de uma frieza de lado a lado, mais do que ideias golpistas de fato, que como a resposta da sociedade civil e do empresariado à escalada bolsonarista mostrou, não teriam leito para correr. A fartura de programas militares e verbas sob o governo de Lula também é lembrada por aliados do petista como um fator positivo.
 

Mas as tentativas de conversa para aproximar Lula dos militares fracassaram. A campanha, como se vê com a frase dita na segunda-feira, não deverá contribuir para tanto.

FOLHAPRESS

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