Marina diz desconhecer projeto de gasoduto da Argentina

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Nota da ministra foi enviada a um portal de notícias

Marina Silva Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Nesta segunda-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), citou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao falar em formas possíveis de financiar o gasoduto Néstor Kirchner. O gasoduto pretende levar o gás de xisto da região de Vaca Muerta ao Brasil. Segundo o portal Poder360, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse não ter conhecimento sobre o projeto do gasoduto.

A resposta de Marina foi dada por meio do gabinete dela, horas após Lula anunciar que o BNDES bancará parte da obra.

– O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima não tem conhecimento sobre o projeto e da intenção do BNDES em financiá-lo. Trata-se de um empreendimento complexo que envolve riscos socioambientais significativos a serem devidamente considerados.

Se a ideia de Lula, para promover o financiamento do gasoduto para gás natural na Argentina, realmente seguir em frente, o petista estará contradizendo sua própria agenda de campanha e de governo relacionada ao meio ambiente. A razão para isso decorre da forma como o gás é explorado no país vizinho.

A reserva de Vaca Muerta, no oeste da Argentina, de onde se origina o gasoduto que Lula prometeu financiar com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é uma formação geológica rica em gás e óleo de xisto. O xisto, por sua vez, é uma rocha metamórfica com aspecto folheado que pode abrigar gás e óleo em frestas.

No entanto, para extrair o óleo e o gás há um processo que é considerado muito danoso ao meio ambiente, cujo nome é conhecido em inglês como “fracking”. Na prática, essa técnica consiste em “quebrar o solo”, primeiro a partir de uma perfuração vertical e, após determinada profundidade, a partir de uma perfuração horizontal.

No processo de obtenção dos elementos oriundos do xisto, porém, são inseridos produtos químicos e água para que sejam liberados gás e óleo que possam estar “presos” entre as rochas. Muito usado nos Estados Unidos, o processo é questionado, por exemplo, por liberar “ar tóxico na atmosfera”, como ressalta um texto da Escola de Saúde da universidade norte-americana de Yale.

– O processo requer grande volume de água, emite gases que provocam o efeito estufa, como o metano, libera ar tóxico na atmosfera e produz barulho. Estudos indicam que esse tipo de operação para extrair óleo e gás podem levar a perda dos habitats de plantas e animais, declínio das espécies, disrupções migratórias e degradação da terra – diz o texto da universidade.

O texto da instituição de ensino estadunidense ainda destaca que “estudos também demonstraram haver uma associação entre os locais de extração de óleo e gás de xisto com gravidezes malsucedidas, incidência de câncer, hospitalizações e episódios de asma”.

No caso do gás natural extraído no Brasil, o processo é feito a partir do pré-sal. Por ser retirado de forma direta dos poços em alto mar, esse tipo de método é muito menos danoso ao meio ambiente do que o usado para extrair gás de xisto.

FINANCIAR GASODUTO TAMBÉM PODE SER DANOSO PARA O BNDES
Ao site Poder 360, o diretor e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, destacou que a decisão de financiar o gasoduto argentino traz riscos para o BNDES por conta da instabilidade política do país vizinho e da América Latina.

– Infelizmente, a Argentina e América Latina como um todo têm uma instabilidade política e regulatória muito grande. Não sabemos o que será a Argentina daqui a 12 meses – apontou.

A decisão de apoiar o projeto argentino também pode soar contraditório se for levado em conta que o país vizinho possui uma malha de gasodutos bem maior que a brasileira. Enquanto a Argentina tinha, em 2021, cerca de 16 mil quilômetros de dutos, o Brasil possuía aproximadamente 9,4 mil quilômetros, de acordo com números do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).

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