Advogada Verônica Abdalla Sterman foi indicada por Lula para ser nova ministra do STM. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Davi Soares
A indicação da advogada Verônica Abdalla Sterman para ser nova ministra do Superior Tribunal Militar (STM) foi alardeada pelo presidente Lula (PT) como ato de valorização feminina no Dia Internacional de Mulher, celebrado neste sábado (8). Sterman é advogada pessoal de Gleisi Hoffmann, petista que assume nesta segunda-feira (10) a chefe da Secretaria de Relações Insitucionais. Mas sua nomeação não ofusca as preferências masculinas do líder da esquerda que acusava seu antecessor Jair Bolsonaro (PL) de “misoginia”.
O ato que pode levar o STM a ter sua 2ª ministra em 217 anos de existência da Corte Militar veio apenas dez dias depois de o petista demitir a terceira ministra de seu terceiro governo, Nísia Trindade, do Ministério da Saúde; mais uma vez, por pressões de forças políticas hegemonicamente masculinas.
E ocorre menos de um ano após Lula escolher, pela segunda vez no atual mandato, um homem para compor a cúpula da Justiça do Brasil. Primeiro foi Cristiano Zanin, em julho de 2023; depois, Flávio Dino, em janeiro de 2024. Ambos foram escolhidos por Lula, que resistiu a pressões para nomear mulheres e equilibrar os espaços de poder no Brasil.
No STF, prevaleceram os laços pessoais com o petista, que priorizou o vínculo criado com seu ex-advogado Zanin, que havia lhe tirado da prisão e anulado condenações por corrupção; e o laço ideológico e de amizade com Dino, aliado político comunista e ex-ministro da Justiça, neste governo. Em governos anteriores, Lula indicou Cármen Lúcia (2006) e Dias Toffoli (2009).
Jogo de cena
Se for aprovada após sabatina pelo Senado, Sterman une-se à ministra Maria Elizabeth, que foi pioneira na formação do STM, também indicada por Lula, em outro Dia da Mulher em 2007. E Lula exalltou que ambas “vão mudar a história do Supremo Tribunal Militar para melhor”, com Maria Elisabeth assumindo a presidência histórica do STM, na quarta-feira (12).
Mas a indicação de Sterman vem após apelos públicos da própria Maria Elisabeth para que Lula considerasse a indicação de uma mulher à Corte Superior Militar, que passou mais de dois séculos totalmente formado por homens.
O ato de indicação de Sterman foi explorado nas redes sociais por Lula, ao lado da primeira-dama Janja e da futura ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Mas outras três mulheres que não aparecem no jogo de cena caíram sem a menor pompa.
O desfecho desrespeitoso da terceira demissão de mulheres do governo de Lula não saiu na foto. A troca de comando do Ministério da Saúde será concluída nesta segunda (10), com a queda de Nísia Trindade após semanas de uma “fritura” articulada pelo próprio Partido dos Trabalhadores (PT).
O desgaste forjado por petistas favoreceu a presidente nacional do partido de Lula, que acabou conquistando a cobiçada articulação política do governo, no lugar de Alexandre Padilha, que já mirava a cadeira da ministra da Saúde e já exercia forte influência na pasta.
Ainda no nono mês de seu atual governo, Lula cedeu às pressões do Centrão e demitiu a ministra do Esporte, Ana Moser, para abrigar o deputado André Fufuca (PP-MA), apadrinhado do então presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Outra ministra “fritada” para deixar o cargo foi Daniela Carneiro, que perdeu o comando do Ministério do Turismo para o deputado Celso Sabino (União-PA), após deixar o mesmo partido de seu sucessor, alegando “perseguição e assédio”. A ministra já resistia a um vídeo de sua campanha eleitoral de 2018, em que recebia apoio de um acusado de comandar uma milícia na Baixada Fluminense. Mas caiu mesmo, “entregando o cargo”, por pressão do partido Centrão.
Além disso, Lula demitiu a presidente da Caixa, Rita Serrano, substituída em outubro de 2023 pelo economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado por Lira e pelo Centrão.
DIÁRIO DO PODER