Presidente disse diversas vezes que considera muito grave encontros particulares com líderes políticos; disse uma coisa, faz outra
Durante o governo Jair Bolsonaro, Lula martelou, sempre que pôde, que considerava extremamente grave reuniões secretas com líderes políticos. Chegou até a dizer que só faria negociações “à luz do dia”, mas, pelo jeito, isso não vale para encontros com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para discutir assuntos da reforma ministerial.
De acordo com da Folha de S. Paulo, essas reuniões com Lira têm ocorrido fora da agenda dos dois, durante a noite. Para não chamarem a atenção, eles usam carros “à paisana”, sem seus comboios de segurança.
No governo anterior, Jair Bolsonaro era fortemente criticado pela esquerda por não ter transparência em seus encontros fora da agenda. Ele usava vários comboios para e despistar a imprensa.
Em uma de suas declarações a favor da transparência, durante entrevista para a TV Record no mês passado, Lula disse que, “no momento certo, nós vamos conversar [com Lira e líderes partidários] da forma mais tranquila possível”. “Eu não quero conversa escondida. Eu não quero conversa secreta”, comentou.
Na mesma entrevista, o presidente petista acrescentou. “Na hora que voltar o Congresso Nacional, que for juntar os líderes dos partidos que eu vou conversar, toda a imprensa vai ficar sabendo o que que eu conversei com cada um, o que foi ofertado para a participação do governo e o que o governo quer estabelecer de relação com o Congresso até o final do mandato”.
“O que é grave é quando você passa a ideia de que é secreto. Aí você já cria a tese da suspeição. E nunca é bom você viver sob suspeição. Por isso, é importante a gente fazer acordo à luz do dia”, completou o petista.
Além dessas declarações, Lula afirmou, em outras ocasiões, que tem interesse de que toda imprensa saiba de suas reuniões com líderes políticos. Agora, toda a imprensa sabe de suas reuniões, inclusive as secretas, que, de acordo com ele mesmo, seriam extremamente graves.
Furtivamente
De acordo com a reportagem da Folha, o último encontro secreto entre Lula e Lira ocorreu no dia 16. Nenhum dos dois confirmou ou negou se a reunião aconteceu.
Na ocasião, Lula teria deixado o Palácio do Planalto por volta das 19h20, mas não foi para o Palácio da Alvorada. De acordo com jornalistas que estavam em frente à casa do presidente da Câmara, um carro, de modelo parecido com o que Lula usa, entrou e saiu da residência. Às 20h40, o comboio do petista chegou à residência presidencial. Segundo os assessores palacianos, a reunião ocorreu neste intervalo de tempo.
Outro encontro secreto entre os dois teria ocorrido no Palácio da Alvorada, na noite do dia 2 deste mês. Lira também chegou sem seu comboio de segurança.
Além das reuniões secretas com Lira, o presidente e a primeira-dama Janja participaram de um jantar, fora da agenda oficial, na casa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Outro presente ao encontro foi o ministro Cristiano Zanin. O jantar teria ocorrido na véspera da posse no STF do ex-advogado de Lula.
O ANTAGONISTA