Presidente disse que todos deveriam votar com o governo no conselho, mas o CEO, Jean Paul Prates não seguiu orientação e se absteve
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; o presidente Lula; e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates — Foto: Divulgação
A disputa interna da Petrobras em torno do pagamento dos dividendos extraordinários aos acionistas foi arbitrada pelo próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, depois de duas reuniões no Palácio do Planalto com a presença de ministros, diretores e conselheiros da companhia. Nenhum dos encontros constou na agenda oficial do presidente ou dos ministros.
A divergência em questão se deu entre o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, e os conselheiros do governo – capitaneados pelo presidente do conselho, Pietro Mendes, indicado pelo ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Prates defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram livres no caixa após o pagamento dos dividendos regulares – R$ 43,9 bilhões. Já o grupo de Silveira defendia segurar todo esse dinheiro em um fundo de reserva. Por ter a maioria das ações da petroleira, o governo tem 6 dos 11 conselheiros. Os demais representam os acionistas minoritários e os funcionários.
Como não se chegava a um consenso no âmbito da empresa, a disputa foi levada a Lula, que chamou para a tarde da última terça (5) os ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Fernando Haddad (Fazenda).
Nessa reunião, Prates disse que não pagar o extra poderia derrubar o valor de mercado da companhia e sustentou que não havia risco financeiro em fazer os pagamentos.
Já Silveira dizia que, de acordo com um estudo técnico, a distribuição afetaria a capacidade da empresa de se financiar para fazer frente ao plano de investimentos de US$ 102 bilhões.
Pelas regras da Petrobras, o dinheiro não pode ser usado diretamente nos investimentos, mas a tese do grupo do ministro é que mantê-lo no caixa ajudaria a empresa a conseguir empréstimos em condições mais favoráveis.
Como não se chegava a uma conclusão, todos foram convocados a voltar no dia seguinte, para uma nova reunião para a qual foram convocados também o diretor financeiro, Sérgio Caetano Leite, o presidente do conselho, Pietro Mendes, e o conselheiro Bruno Moretti, também do governo, para uma nova apresentação.
Leite e Mendes então tiveram uma dura discussão diante de Lula, mas o presidente desempatou a favor da proposta de não pagar o dividendo extra.
Ao final, Lula ainda advertiu o grupo de que todos deveriam votar de acordo com a decisão tomada ali. Contudo, no dia seguinte, já no Rio de Janeiro, Prates se fechou em seu escritório na sede da Petrobras e participou pelo aplicativo de reuniões virtuais da reunião do conselho que acontecia a poucos metros dali.
De acordo com a colunista do GLOBO Bela Megale, o presidente da Petrobras ficou tão irritado com a decisão de Lula que chegou a colocar o cargo à disposição. Prates nega.
Na sexta-feira, a reação do mercado financeiro à decisão foi sair vendendo ações e derrubar o valor de mercado da companhia em mais de 10% nesta sexta-feira (8). Num único dia, a Petrobras se desvalorizou em R$ 55 bilhões.