Jerônimo fica quase 20% do mandato na China, as queixas da base governista, a CPI do MST e o abacaxi no CAB

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Governador turista
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) vai ficar fora da Bahia, em viagem à China, por quase 20% dos seus primeiros 100 dias de gestão. O petista, que viajou ao país asiático no último dia 29, decidiu prolongar sua estadia – com direito a autorização da Assembleia Legislativa – para se encontrar com o presidente Lula (PT) e tentar garantir algum investimento para anunciar no retorno à Bahia no próximo dia 16, já que, até o momento, a agenda não rendeu nada além de memes nas redes sociais. No total, serão 18 dias de viagem nestes pouco mais de três meses de governo. Para observadores da política baiana, não há precedentes na história recente do estado de uma viagem tão longa de governador para fora do país. E o pior: num momento extremamente delicado para o estado. 

Palácio vacante
Enquanto Jerônimo continua em sua viagem na China, a Bahia vive uma das suas piores crises na segurança pública dos últimos anos – se não a pior. Nos últimos dias, foram registradas diversas ocorrências graves, como tiroteio na Lapa, perseguição e troca de tiros na avenida Paralela, ônibus incendiado na região de Sussuarana, provocando fechamento de escolas, unidade de ensino e hospital invadidos. Ainda entram nas estatísticas os casos das idosas sequestradas no bairro de Piatã e do idoso baleado no tórax durante um assalto no Costa Azul. E enquanto isso, o governo segue inerte. Jerônimo só foi se manifestar na noite desta quinta-feira (13) em suas redes sociais, dizendo que iria ampliar a ronda escolar. Será que, quando voltar à Bahia, ele vai manter o discurso de que a violência é culpa da imprensa? 

Contraste
Enquanto o governador passa quase 20% do seu mandato no exterior, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) desfila com seus 40 seguranças pelo estado com o modo ‘arroz de festa’ ativado. Ou melhor: com seus 33 policiais, como ele mesmo gosta de corrigir, e ainda faz questão de dizer que precisa de mais 40. E, por ironia do destino, isso tudo acontece justamente num dos momentos mais críticos da segurança pública na Bahia dos últimos anos. A situação de Geraldo, em contraste com a maioria das cidades baianas, que sofrem com a falta de efetivo policial, remete a um famoso ditado popular: uns com tanto, outros com tão pouco. 

Jerônimo encurralado pela própria base
O que faltou de projeto e rumo nos 100 dias do governador Jerônimo Rodrigues sobrou de queixas e reclamações dentro da base aliada por causa da distribuição de cargos. O estopim foi uma reunião recente na última segunda (10), justamente nos 100 dias, quando líderes e parlamentares da Assembleia Legislativa colocaram um ponto final na relação de paz e amor com o chefe do Executivo. O primeiro recado da insatisfação veio com a adesão de governistas à CPI do MST, articulada pela bancada de oposição para investigar quem são os financiadores dos atos de invasão de terra na Bahia.

CPI do MST e o alerta do mau presságio
A senha de que a relação com Jerônimo já azedou veio com a assinatura do presidente da Casa, deputado Adolfo Menezes (PSD), que até então se colocava como aliado de primeira hora. Fato é que a lista de apoiadores da CPI já chegou a 30 deputados, praticamente metade do Legislativo, e tem a tendência de crescer nos próximos dias. Governistas mais experientes confidenciam nos corredores do Legislativo que a instalação de uma CPI no quarto mês de governo é um mau presságio.

Tempo livre
Da China, Jerônimo já mandou avisar que pretende arrumar um cargo para o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) quando retornar ao estado. Se o perfil expansivo do emedebista já incomodava antes, agora, com Geraldo como governador interino, passou a ser “insuportável”, segundo relatam fontes governistas. O governador já analisa, junto ao seu núcleo duro, espaços para dar ao vice “alguma ocupação”. 

Vai que…
E o vice foi motivo de piadas entre deputados estaduais na última quarta-feira (12), quando a Assembleia Legislativa aprovou a autorização para que Jerônimo prolongue sua viagem à China. Para viagens de mais de 15 dias, o chefe do Executivo precisa de autorização legislativa. Em tom de brincadeira, parlamentares disseram que Geraldo deveria estar torcendo para que o Legislativo não aprovasse a permanência. “Geraldo devia estar doido por isso para Jerônimo cair e ele assumir de vez, já que está tão deslumbrado com o cargo”, disse, aos risos, um deputado. “O ditado do vice agora deve ser ‘Deus me livre, mas quem me dera’”, completou outro parlamentar, para provocar gargalhadas do grupo que acompanhava a conversa. 

Segura que esse abacaxi é seu
Virou motivo de piada no meio político a confusão do secretário de Agricultura da Bahia, Walisson Torres (o Tum), para discernir a diferença entre sisal e abacaxi. Explicamos: segundo relato do deputado Marcinho Oliveira (União Brasil), Tum passava pela região sisaleira, quando perguntou se um pé de sisal era um pé de abacaxi. O desconhecimento sobre um aspecto elementar da agricultura baiana colocou um caminhão de críticas sobre a condução dele à frente da pasta. Já existe até bolão de aposta para ver quando Tum dará tchau ao posto.

Fritura
E não é só o secretário Tum que tem sido questionado no governo. Quem também tem recebido críticas internas é a secretária de Desenvolvimento Urbano, Jusmari Oliveira (PSD). Ela vem sendo alvo de servidores, que acusam a ex-deputada de perseguição. No núcleo duro do governo, as críticas são recebidas com preocupação, uma vez que, dizem fontes governistas, Jusmari tem deixado a desejar no comando da pasta, que é uma das mais estratégicas da gestão. Garantem, ainda, que já tem gente de olho no cargo – inclusive do próprio partido dela. 

Ressaca sem fim 
Passados quase dois meses, a Secretaria de Turismo do Estado ainda publica contratos e pagamentos feitos para a realização do Carnaval. A fatura parcial já se aproxima de R$ 60 milhões e, segundo fontes internas, deve romper a casa dos R$ 100 milhões. Somente esta semana, foram 37 ordens de pagamentos que totalizaram R$ 2,5 milhões. Pela lógica, e pela lei, os valores deveriam ser tornados públicos antes de saírem dos cofres do Estado. Se por um lado, ainda não se sabe o total da conta da folia momesca, já se sabe que a Setur pretende desembolsar quase R$ 2 milhões para anunciar o São João em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Gincana
A demora do governador em formalizar um projeto de lei para tornar o programa Bahia sem Fome um política de estado foi alvo de uma série de críticas na Assembleia Legislativa. A avaliação dos deputados é que sem o compromisso orçamentário do governo a campanha tende a rodar apenas pelo apelo solidário para coleta de cestas básicas. “Do jeito que foi implementado até agora parece gincana”, advertiu um parlamentar. Há também cobranças pela transparência sobre aquilo que é arrecadado, sobre as condições de armazenamento, logística de distribuição e nomes das pessoas atendidas. A ideia é que as informações ajudem a mensurar o andamento da ação.

De volta
A deputada estadual Cláudia Oliveira (PSD) já começou a preparar o terreno para tentar retornar à prefeitura de Porto Seguro no próximo ano. Ela deve ser a candidata do grupo na cidade para enfrentar a reeleição do prefeito Jânio Natal (PL). Embora há quem defenda que ela deveria formar um novo quadro para a corrida eleitoral, fontes que acompanham a política na cidade dizem que a deputada deseja entrar na disputa contra Jânio, que hoje é considerado favorito para renovar o mandato por mais quatro anos. 

Mudança de ares
Já o ex-deputado Uldurico Júnior (MDB), que foi derrotado por Jânio em Porto Seguro em 2020, é especulado como candidato a prefeito de Teixeira de Freitas. O vice-governador Geraldo Júnior já avisou que Uldurico contará com o apoio do governo caso entre na disputa no município contra a reeleição do prefeito Marcelo Belitardo (União Brasil), hoje também tido como favorito. 

Sonho meu
O deputado estadual Patrick Lopes (Avante) sonha em ser candidato a prefeito de Jequié. Inclusive, nesta semana, já declarou que pretende entrar na disputa com o apoio do governo. Contudo, a empreitada dele esbarra em dois pontos: a elevada aprovação do prefeito Zé Cocá (PP) e a resistência de setores governistas, uma vez que a cidade é base importante de alguns parlamentares influentes do grupo, como o deputado federal Antonio Brito (PSD). Para se viabilizar, dizem governistas, Patrick, que é ex-prefeito de Jitaúna, precisaria das bênçãos das lideranças locais, o que hoje estaria muito distante.

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