Greve dos profissionais de enfermagem prejudica atendimento na rede pública

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Profissionais de enfermagem decidem continuar em greve até segunda-feira (3/7), quando voltam a se reunir. Eles tentam pressionar o STF a unificar piso

(crédito: Carlos Vieira)

A greve dos servidores da área de enfermagem causa impacto nas unidades básicas de atendimento à saúde e nos hospitais da rede pública. Em todo o Distrito Federal, a população está com o atendimento comprometido. A vacinação é a mais prejudicada. Cirurgias eletivas e consultas médicas, entre outros procedimentos, foram canceladas. Os serviços de urgência e emergência atenderam apenas casos classificados nas triagens como muito graves.

A paralisação começou na última quarta-feira (28/6). Nesta sexta-feira (30/6), os profissionais — auxiliares, técnicos e enfermeiros — fizeram um ato em defesa do piso salarial, na Esplanada dos Ministérios, e decidiram seguir de braços cruzados pelo menos até a próxima segunda-feira (3/7).

De acordo com o SindEnfermeiro, os impactos da greve foram sentidos pelos usuários principalmente em Planaltina, onde houve 100% de adesão. Outra outra região bastante afetada foi Ceilândia, onde fica um dos maiores hospitais do DF.

“Na segunda-feira, faremos um movimento em frente ao Ministério da Saúde. Haverá nova assembleia para, então, decidirmos se continuamos em greve ou não. O nosso intuito é fazer com que o Supremo Tribunal Federal (STF) entenda que a Lei n° 14.434 (do piso da categoria) precisa ser implementada e aplicada na íntegra. Esperamos que o governo federal possa intermediar para que o Judiciário reconheça esse direito. Não queremos e não vamos aceitar uma lei do piso desidratada”, afirma o presidente do SinEnfermeiro, Jorge Henrique de Sousa.

O diretor de assuntos da rede privada do SindEnfermeiro, Rangel Fernandes, questiona como “um técnico de enfermagem recebe somente cerca de um salário mínimo por mês e um enfermeiro R$ 2,5 mil nas instituições particulares”. Segundo ele, a adesão à greve na iniciativa privada é muito pequena.

Angústia

No Hospital Materno Infantil (Hmib), referência no atendimento à criança, o impacto da greve causou indignação e desespero em pais que, vendo o sofrimento dos filhos, sentiam-se impotentes. Abalada e chorando muito, Juliana Vieira do Nascimento e o marido Otávio Denis Sousa estavam em busca de atendimento para David, 8, que apresentava suspeita de intoxicação alimentar. O menino nasceu com uma doença rara, a acidemia, detectada no teste do pezinho. Por causa da enfermidade, tem limitações alimentares.

Em um primeiro momento, foi dispensada pela triagem. Porém, ainda no próprio estacionamento do hospital, o menino piorou. O casal retornou, insistiu, e, depois de duas horas e meia, a criança ficou internada, tamanha a gravidade do quadro. “Estamos desesperados, fui humilhada, a atendente disse que vim passear no hospital. Meu filho pode morrer se estiver intoxicado, estou com marido e meu sogro tentando salvar a vida de nossa criança. Eu sou mãe de dois filhos, jamais perderia tempo batendo perna dentro de um hospital”, disse ao Correio, chorando.

Moradora do Valparaíso de Goiás, Noelza dos Santos Oliveira, 34, depois de tentar o Hospital do Gama, chegou ao Hmib com a filha de 2 anos e nove meses. A menina estava com 39 graus de febre. Mesmo com um laudo médico em mãos provando que a criança está com uma infecção no sangue, ela não conseguiu prioridade, pois a criança foi classificada como paciente de menor gravidade.

Na mesma unidade estava Néia Santos, 37, moradora de Samambaia, e o filho Alexandre, 8. O menino está há quase um mês com uma crise de sinusite e rinite grave. De acordo com Néia, ele tem febre todos os dias, vômito e dor de cabeça. “A atendente na triagem mandou ir embora e perguntou o que eu vim fazer no hospital, já que meu filho está andando? É inacreditável um profissional de saúde falar isso para uma mãe que está vendo o filho vomitando, sem comer e ardendo em febre há quase um mês”, desabafou, bastante indignada.

Vacinação

O trabalho de imunização é realizado totalmente pelos profissionais de enfermagem. Por isso, é o mais atingido. Conforme o sindicato, todas as salas de vacinação foram fechadas no Sudoeste, nas UBSs 18 e 20 (Estância, em Planaltina), Samambaia, Taguatinga e Recanto das Emas. Outras chegaram a abrir, mas não havia técnicos para realizar o trabalho.

Renan Ramos, 38 anos, morador do Noroeste, levou seu bebê de 1 ano para receber as primeiras doses previstas no calendário de vacinação. Por falta de servidores na UBS nº 13, na 513 Norte, voltou para casa sem atendimento. “É preocupante essa situação, porque estou indo embora sem saber quando e como vamos cumprir a dose vacinal do meu filho de forma correta, como toda criança precisa após o nascimento”, protesta.

O que diz a secretaria

Em nota, a Secretaria de Saúde (SES-DF) informou que se solidariza com o movimento dos profissionais de enfermagem. Informa, ainda, que o atendimento aos pacientes será mantido em todas as unidades. De acordo com a pasta, cerca de 50% dos enfermeiros e técnicos estão executando as atividades nos três níveis de atenção (básica, primária e emergência) e as 175 UBSs estão funcionando com equipes reduzidas.

CORREIO BRAZILIENSE

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