A redução de quase 27% nos casos de malária no Brasil no primeiro trimestre de 2025, divulgada pelo Ministério da Saúde, é um avanço, mas ainda insuficiente para garantir o controle da doença. O alerta é do imunologista Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro, chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e integrante do comitê de especialistas que assessora o governo federal.
Entre janeiro e março deste ano, o país registrou 25.473 casos confirmados da doença. Embora a maioria das ocorrências (99%) esteja concentrada na região amazônica, Daniel-Ribeiro destaca que o mosquito transmissor — o Anopheles, conhecido como mosquito-prego — é encontrado em 80% do território nacional. O especialista alerta para o risco de disseminação em áreas fora da Amazônia, impulsionado pelo aumento da mobilidade entre regiões e a chegada de viajantes provenientes de locais endêmicos, como países africanos.
O imunologista reforça que o diagnóstico precoce é essencial para evitar a propagação da doença. “Médicos fora da Amazônia precisam considerar a malária como hipótese diagnóstica ao atender pacientes com febre, calafrios, dor de cabeça e sudorese”, afirma.
No Brasil, dois tipos de protozoários causam a maioria das infecções: o Plasmodium vivax, responsável por cerca de 80% dos casos e de alto potencial de transmissão, e o Plasmodium falciparum, associado a formas mais graves e risco elevado de morte. A estratégia nacional prevê a eliminação das infecções pelo falciparum até 2030 e o fim da transmissão de malária no país até 2035.
A transmissão da doença pode ocorrer rapidamente. Pessoas infectadas pelo vivax tornam-se capazes de transmitir a malária já no primeiro dia de infecção, enquanto as infectadas pelo falciparum passam a ser contagiosas após cerca de sete dias. “O tratamento rápido não apenas salva o paciente, mas impede que ele transmita a doença para novos mosquitos, evitando surtos e a reintrodução da malária em áreas onde ela já foi eliminada”, explica Daniel-Ribeiro.
Atualmente, o país dispõe de medicamentos eficazes e testes rápidos capazes de diagnosticar a doença com apenas uma gota de sangue. No entanto, um novo desafio desponta no horizonte: as mudanças climáticas. O aumento das temperaturas pode favorecer a sobrevivência do mosquito e do protozoário em regiões onde a malária já havia sido erradicada, dificultando o controle da doença.
“A malária foi eliminada mais rapidamente na Europa e na América do Norte, em parte, porque o mosquito e o parasita são mais sensíveis ao clima temperado. Com o aquecimento global, o risco de reimplantação da doença aumenta significativamente”, alerta o especialista da Fiocruz.
A TARDE