Ex-presidente do Banco Central compara Brasil com viciado em drogas que está a beira de voltar ao vício da hiperinflação

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Foto: Reprodução/Divulgação/ Rio Bravo.

Franco, que era o presidente do Banco Central (BC) quando o real enfrentou seu maior desafio – um ataque especulativo que drenava quase US$ 1 bilhão das reservas cambiais todos os dias – minimiza esse período. Ele afirma que a estabilidade monetária alcançada após 30 anos demonstrou que não havia “nenhum truque, nenhuma farsa”. Ele rejeita as críticas de que a maxidesvalorização do real teria sido postergada devido às eleições de 1998, afirmando: “Ninguém sofreu perdas. Esse assunto está encerrado”.

Franco renunciou ao BC em janeiro de 1999, quando o governo, logo após a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, optou por flexibilizar o regime de bandas cambiais, em resposta ao esgotamento das reservas internacionais. Pouco tempo depois, o real começou a flutuar livremente. Franco era contra essa alteração na política cambial.

Em uma entrevista ao GLOBO, a terceira de uma série com os principais atores do Plano Real, Franco avalia que o momento mais difícil da implementação do plano ocorreu na véspera do lançamento da Unidade Real de Valor (URV), que seria convertida em real alguns meses depois, durante uma reunião no gabinete do presidente Itamar Franco com o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

“Nesse dia, eu vi o ministro da Fazenda pedir demissão três vezes, não foi uma, foram três vezes. Levantar da mesa e dizer: ‘Assim não dá. Eu vou me embora’”.

Questionado sobre o risco das pequenas inflações, ele respondeu:

“Quando fizemos o Real, a inflação brasileira estava na faixa de 50% ao mês, que é 12.500% ao ano. Então, quando hoje a gente discute a meta de inflação anual de 3%, parece um excesso de zelo. Mas não, a pessoa que foi viciada não pode tomar um drinque sozinho e achar que é tudo normal. Não é! Nunca mais. A gente tem que ter muito zelo nesse assunto, porque toda a tecnologia desse vício, a correção monetária, está na cabeça das pessoas, dispara um pouco de inflação e começa tudo a degringolar. Não pode nunca voltar para aquela situação de antes.

Temos proteções para isso. Nossas instituições, sobretudo referentes à governança da moeda, estão bem protegidas. Pode sempre estragar. Um mau governante, um mau momento do país, da política pode sim estragar tudo. E é mais fácil ainda para um país que já viveu esse estrago e parece que não tem medo. Quem já foi viciado descontrolado, sabe como é difícil a sobriedade. Vamos ter que cuidar da nossa saúde com muito zelo daqui para frente.”

Com informações de O Globo.

 

 

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