Traduzido para o português, ele quer dizer que vai transferir o que você tem no bolso para o bolso dos que mandam no governo
J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 24 de julho de 2022)
O ex-presidente Lula, candidato já declarado pelas pesquisas de opinião como vencedor das eleições de outubro próximo, está fazendo algo que não é comum na política brasileira. Cada vez mais, em seus discursos de campanha, insiste em deixar claro quem ele realmente é — e, pior ainda, como vai ser o seu governo se chegar de fato lá outra vez. Em seu último manifesto, disparado com a mesma ira de sempre, Lula disse o seguinte: é contra — isso mesmo, contra — a redução dos preços dos combustíveis para o consumidor, trazida pela recente redução de impostos que o governo federal propôs e o Congresso aprovou. Como assim? Por que raios alguém seria contra um benefício claro e direto à população? Porque o que é bom para o cidadão não é bom para o tipo de gente de quem Lula realmente gosta. “A redução de preços prejudica os governadores”, explicou ele num comício de campanha. O candidato do PT acha que isso é uma coisa horrível.
Eis aí, sem disfarces, o Lula de verdade: entre o povo brasileiro e os governadores, ele toma o partido dos governadores, essa elite que manda, se enriquece e representa tão bem o Brasil que ele quer manter intacto, hoje e sempre. É isso — o candidato do “campo progressista” acha que a população deve pagar mais caro pela gasolina, porque os governadores de Estado, esses colossos que estão aí, devem ter mais dinheiro. A desculpa que dá para essa preferência é mais falsa que um Rolex paraguaio. Lula diz que, por causa da diminuição nos preços dos combustíveis, vai “faltar dinheiro para educação e a saúde” — como se os governadores estivessem dando a mínima para uma coisa ou para a outra. Por acaso os impostos sobre o combustível estavam sendo aplicados nos maravilhosos sistema de educação e saúde que os governadores de Estado vinham executando — e que agora, coitados, não vão poder executar mais? A última coisa que esses governadores fizeram, em termos de educação, foi manter fechadas durante dois anos as escolas da rede pública de ensino — o maior desastre que já aconteceu em toda a história da atividade escolar neste país.
Lula, em sua versão 2022, está com uma ideia fixa: dar mais força, mais poder e mais dinheiro para “o Estado” e isso, traduzido em português, quer dizer que vão transferir cada vez mais o que você tem no seu bolso para o bolso dos que mandam no governo e nos seus arredores. Não são os adversários do PT que dizem isso. É Lula, em pessoa, que quer a volta do imposto sindical. É ele que quer a volta do imposto da CPMF. É ele que quer um governo mais caro e sem teto de gastos. O fim dessa linha é bem-sabido: menos liberdade para todos.
REVISTA OESTE