Dengue: famílias inteiras buscam atendimento na rede pública de saúde

Destaque

Com sintoma da doenças, parentes buscam atendimento na rede pública. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde, 55 pessoas morreram. O aumento de casos chega a 1.449,6% em relação a 2023

Taliza Mendes levou familiares, inclusive o sogro e a sogra, com sintomas da doença na tenda da Estrutural -  (crédito:  Giulia Luchetta/CB/D.A Press)

Taliza Mendes levou familiares, inclusive o sogro e a sogra, com sintomas da doença na tenda da Estrutural – (crédito: Giulia Luchetta/CB/D.A Press)

Famílias inteiras com sintomas de dengue buscam atendimento na rede pública de saúde do Distrito Federal. Nas tendas de hidratação montadas para complementar a assistência aos casos da doença, é comum a presença de crianças e familiares com sintomas da infecção.
Recém-atendida na tenda do Sol Nascente, Zenildes Fernandes Barbosa, de 50 anos, disse ao Correio que contraiu dengue no mesmo período que a cunhada, Claudia Guedes, 47, e o sobrinho, Danilo Guedes, 13, na última semana. “Na nossa família, praticamente todo mundo pegou dengue”, afirmou. A contadora testou positivo para a dengue pela segunda vez, e conseguia distinguir os sintomas, quando começaram. “Comecei a sentir dores nas juntas, coceira no corpo e ânsia de vômito, muito calafrio e diarreia”, descreveu. “Da outra vez, (dois anos atrás) tive muita febre e dor no corpo, mas nada desses outros sintomas que tive dessa vez”, constatou. Segundo ela, tudo começou na sexta-feira (23/2).
Questionada sobre onde acredita ter se infectado, Zenildes levantou algumas hipóteses. “Não sei, eu fico muito pelo Sol Nascente, e lá existem muitos focos do mosquito. Trabalho voluntariamente em uma igreja, com causas sociais, e vamos muito para esses lugares remotos, que quase não têm infraestrutura, e nessa região é bem complicado. Acho que talvez eu possa ter sido infectada lá”, disse. “O atendimento na tenda foi rápido, em 20 minutos já foi feita a triagem”, destacou ela.
Taliza Mendes, 33, foi à tenda da Cidade Estrutural para levar o sogro, Raimundo Nonato da Silva, 64, que precisava fazer o retorno — ainda sentida as sequelas da doença, como dores no corpo e inchaço no abdômen. Além dele, o filho mais velho de Taliza, Nicholas Mendes, 11, e a sogra, Maria José de Jesus, 61, também se infectaram com a dengue.
Logo no início da semana passada, o estado de saúde de Raimundo piorou. Além de apresentar todos os sintomas típicos da dengue, como febre alta repentina e dores nas articulações, o idoso teve um episódio de desmaio. “Passamos a noite acompanhando os sintomas dele, para de manhã irmos à tenda. Chegamos por volta de 6h30 e antes de ser atendido, ele teve uma crise convulsiva”, recordou a nora.
Raimundo, apesar da medicação recebida, foi transferido pelos bombeiros para uma unidade com internação hospitalar. “Viemos à tenda (da Cidade Estrutural) primeiro, e nos encaminharam para a UPA do Riacho Fundo 1, que era onde tinha vaga. Na verdade, era para ele ter sido transferido para o Hospital Regional do Guará, mas lá não tinha leito vago”, ressaltou Taliza.
Regiões como Sol Nascente/Pôr do Sol registraram 5.042 casos de dengue, de acordo com o último boletim epidemiológico

Regiões como Sol Nascente/Pôr do Sol registraram 5.042 casos de dengue, de acordo com o último boletim epidemiológico<<<>>>

Exames

Raimundo deu entrada na unidade de terapia intensiva por volta do meio-dia em 21 de fevereiro, onde recebeu medicação intravenosa, sendo liberado na última sexta-feira. Os cuidados, no entanto, não cessaram. “A barriga dele está aumentando muito, ficando muito inchada, e ele não consegue comer, dormir direito”, afirmou a nora. O idoso realizou novamente os exames somente no fim da tarde de ontem, no Hospital Regional do Gama e voltou para casa. O resultado sai hoje.
Vale ressaltar que dores abdominais intensas, vômitos persistentes, e sangramento de mucosas são exemplos de sintomas de alerta da dengue que costumam ocorrer entre três e sete dias após o início dos sintomas.
Na última sexta-feira (23/2), a secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio, afirmou que as 13 unidades de pronto atendimento passaram a contar com um médico para atendimento exclusivo dos casos de dengue. Segundo informou o médico responsável pela UPA 1 de Ceilândia Norte, a medida está em vigor desde então. A UPA possui 20 leitos de observação e quatro leitos de sala vermelha, de acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (IgesDF). Entretanto, o funcionário informou à reportagem que há 50 pessoas internadas na unidades, onde ficam temporariamente até que abra uma vaga no Hospital Regional de Ceilândia.

DF tem 55 mortes

Os dados divulgados pela Secretaria de Saúde, ontem, revelam a evolução da dengue na capital federal. De acordo com a pasta, 55 pessoas morreram pela doença em 2024, sendo 10 somente em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal.
Entre 1° de janeiro a 24 de fevereiro, 100.558 casos prováveis foram registrados. A maioria são moradores do Distrito Federal (97,7%), enquanto os demais são residentes de outros estados, como Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Bahia. O número, comparado ao mesmo período do ano passado, traz um aumento de 1.449,6%.
A região administrativa com mais casos da doença é Ceilândia (17.447), seguida de Taguatinga (5.329), Sol Nascente/Pôr do Sol (5.042), Brazlândia (4.807) e Samambaia (4.268). As cinco cidades são 37,5% do total de casos no DF.
De acordo com o novo boletim epidemiológico, a faixa etária mais afetada é de pessoas entre 60 a 69 anos (12), seguido de 70 a 79 anos (10) e 80 anos e mais (9). Há apenas um registro de mortes de crianças menores de um ano. Após Ceilândia (10), as regiões com mais mortes por dengue são Recanto das Emas (5), Samambaia (4) e Taguatinga (4). A pasta investiga 82 óbitos.
Palavra de especialista
André Bon, infectologista do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa
Temos ao menos quatro doenças com sintomas muito semelhantes: dengue, chikungunya, zika e covid-19, que têm registrado aumento de casos. Como diferenciar os sintomas de cada um?
A covid-19, apesar de inicialmente ser semelhante à dengue, eventualmente, ela tem uma grande diferença dessas outras arboviroses, incluindo a dengue, que é o fato de possuir sintomas respiratórios. Dengue, zika e chikungunya não são, classicamente, doenças respiratórias. Então, sintomas como tosse, obstrução nasal, dor de garganta não estarão presentes na zika e na chikungunya, mas podem estar presentes na covid-19. Os sintomas sistêmicos, por exemplo, como dor no corpo, febre, dores articulares e dor de cabeça podem estar presentes em todas essas infecções e variam de intensidade cada uma delas, geralmente, a zika é uma doença bastante branda, cujo principal sintoma costuma ser a apresentação de manchas pelo corpo. A chikungunya pode ter febre e dor no corpo, mas o principal marcador da chikungunya são as dores articulares extremamente intensas e que podem se tornar crônicas e podem durar meses — eventualmente precisam de manejo específico até com reumatologista.

Já a dengue é a apresentação clássica de uma febre bastante alta, com dores no corpo, dor de cabeça, dores atrás dos olhos então alguns sintomas são muito semelhantes, mas algumas diferenciações podem ser feitas. Na prática para o diagnóstico é preciso avaliação médica com exames específicos para que possa ser feito adequadamente o diagnóstico.

Vale dizer, no entanto, que o meio de transmissão de dengue, zika e chikungunya é completamente diferente do meio de transmissão de covid-19. A covid-19 não é transmitida por um vetor, é uma transmissão direta de pessoa a pessoa, o que não acontece também para dengue, zika e chikungunya. Dengue, zika e chikungunya precisam do vetor e não é possível serem transmitidas de pessoa a pessoa.

CORREIO BRAZILIENSE

 

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