Crise se agrava e Maduro caça líderes da oposição

Destaque

Assembleia Nacional aprova, em primeira discussão, projeto de lei para anexar o Essequibo, território guianense rico em petróleo. Chanceleres conversam e prometem manter canais de comunicação. Opositores com ordem de captura falam ao Correio. Helicóptero do Exército da Guiana desaparece perto da fronteira

Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, dominada pelo chavismo, mostra mapa de seu país com o Essequibo anexado  -  (crédito: Pedro Rances Mattey/AFP)

Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, dominada pelo chavismo, mostra mapa de seu país com o Essequibo anexado – (crédito: Pedro Rances Mattey/AFP)

De maioria chavista, a Assembleia Nacional da Venezuela atendeu ao apelo do presidente, Nicolás Maduro, e aprovou, de forma unânime e em primeira discussão, o projeto de Lei Orgânica para a criação da província do Essequibo, em território da Guiana rico em petróleo. “Esperamos que o texto seja sancionado em uma semana”, declarou Jorge Rodríguez, líder do Parlamento. Na terça-feira (5/12), Maduro exibiu um mapa com a incorporação do Essequibo ao território venezuelano. Os chanceleres Yván Gil (Venezuela) e Hugh Todd (Guiana) conversaram por telefone e acordaram manter “canais de comunicação abertos”. O governo de Maduro reiterou que informou à Guiana sobre a “participação esmagadora” no referendo do último domingo sobre a anexação do Essequibo, “gerando um mandato inapelável”. Um incidente elevou a tensão, na noite desta quarta-feira  (6): um helicóptero do Exército da Guiana com sete pessoas a bordo desapareceu a 30 milhas (45km) da fronteira com a Venezuela. Fontes militares relataram que “o tempo estava ruim” e nada sugere o envolvimento de Caracas.

Por sua vez, o Exército brasileiro decidiu ampliar o contingente militar na fronteira com os dois países. Na terça-feira, Maduro ordenou à estatal de petróleo PDVSA que inicie a concessão de licenças para exploração de petróleo, gás e minerais no Essequibo. O presidente guianense, Irfaan Ali, denunciou uma “ameaça direta” ao seu país e avisou que levará a crise ao Conselho de Segurança da ONU.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, emitiu uma ordem de captura contra 13 líderes da oposição, sob a acusação de terem recebido dinheiro de “forças transnacionais”, como a petroleira Exxon Mobil, para sabotar o referendo do último domingo. Entre eles, estão Juan Guaidó, Leopoldo López, Carlos Vecchio, Julio Borges e  Yon Goicochea, além de três dos principais assessores de María Corina Machado, vencedora das primárias para disputar as eleições de 2024: Henry Alviárez, Claudia Macero e Pedro Urruchurtu.  

A Casa Branca informou que os EUA esperam que a disputa entre Venezuela e Guiana não degenere em “violência”, nem em “conflito”. “Obviamente, não queremos que ocorra violência, nem conflito entre as partes”, declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby. Cientista político da Universidad Central de Venezuela (UCV), Juan Vicente Carrasquero Aumaitre admitiu à reportagem que “o regime de Maduro entrou em uma fase de ações desesperadas”. “Inventar os votos no domingo, aprovar a lei e ordenar a captura de opositores são um laboratório fabricado pelo chavismo para reanimar a base eleitoral, hoje dispersa, e criar uma situação de conflito para forçar concessão da Guiana”, explicou.

Distração

Um dos alvos da ordem de captura expedida pelo Ministério Público, o economista Leopoldo López — ex-preso político entre 2014 e 2017 e ex-prefeito do município de Chacao — afirmou ao Correio que o regime de Maduro usa a perseguição a opositores e a crise diplomática com a Guiana para desviar o foco da opinião pública das eleições presidenciais de 2024. “Maduro fez tudo isso para criar condições para a não realização do processo eleitoral. Essa ordem de captura não me surpreende. No meu caso, é a décima. O mais relevante é a inclusão de assessores da candidata María Corina Machado. A ditadura busca desativar a equipe de María Corina e começar uma perseguição”, comentou. 

López acredita que a manobra do Palácio de Miraflores terá implicações. “A ditadura de Maduro firmou os Acordos de Barbados, comprometendo-se a não fazer mais prisões arbitrárias. Um dos nomes que constam na ordem de captura é o de Léster Toledo, um dos membros da mesa de negociação”, lembrou. O líder opositor reconhece que o território de Essequibo é reclamado por Caracas. “Nós temos razões históricas, legais e morais para reclamar o reconhecimento dessa área. É um tema sem solução há mais de um século. No entanto, o impulso dado por Maduro a esse processo nada tem a ver com o Essequibo. Trata-se de uma medida de distração da eleição”, salientou López, exilado em Madri. 

Outro opositor que teve a prisão solicitada, o advogado e especialista em direito energético Yon Goicochea soube da inclusão de seu nome na lista quando jantava em um restaurante, em Madri. “Tomei conhecimento pelo Twitter. Há risco de que Maduro queira aumentar a tensão com a Guiana para sabotar as eleições. Ele tem muito menos medo de um conflito com a Guiana do que das urnas”, disse ao Correio o preso político por 15 meses. “A consulta popular foi o primeiro ato da campanha de Maduro. A crise com a Guiana pode ser a desculpa para suspender as eleições”, alertou.

CORREIO BRAZILIENSE

Deixe uma resposta