Para além de todos os problemas já conhecidos causados pela pandemia da Covid-19, a crise sanitária ameaça os avanços já obtidos no controle da Tuberculose (TB) no Brasil. Um boletim epidemiológico do Ministério da Saúde publicado na semana passada sinaliza que os dados de 2019 em comparação com 2020 indicam comprometimento de indicadores operacionais da doença e a sustentabilidade das ações de controle da TB no país.
A pasta chama a atenção para a queda de notificações e a piora dos indicadores laboratoriais, de tratamento e busca de novos casos da doença. Segundo o Ministério, enquanto em 2019 foram registradas 96.655 notificações, os números de 2020 (86.166) demonstram uma queda de 10,9%.
Na Bahia o índice foi maior do que o nacional. Dados levantados pelo BN junto à Secretaria da Saúde do estado (Sesab) apontam para uma redução 31% em relação ao número de casos. Em 2019, foram confirmados 4.793 casos de Tuberculos na Bahia, com uma média mensal de 399, enquanto no ano 2020 foram 3.892 casos, com média mensal de 299. Já em 2021 foram 1.395 casos de TB, com média de 277,6 por mês.
Em um outro cenário, sem pandemia, a queda no número de casos de Tuberculose poderia ser comemorada, levando em conta que a doença é um grave problema de saúde pública e permanece entre as doenças infecciosas que mais matam no mundo. No entanto, dado o cenário atual vivido pelo Brasil e pelo mundo, os números sugerem que as autoridades de saúde devem se manter em alerta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, ao comparar 2019 e 2020, entre os países que concentram 84% dos casos de Tuberculose, cerca de 1,4 milhão de pessoas deixaram de receber o tratamento para a doença por falta de diagnóstico. O número corresponde a uma redução de 21% nas notificações, o que poderia gerar meio milhão de mortes adicionais por TB.
A Sesab chama a atenção para um fato preocupante e que pode ter contribuído para a redução do número de casos diagnosticados. A secretaria leva em conta que a Tuberculose é uma doença de sintomas respiratórios e que possui sinais e sintomas similares à Covid-19. Diante disso, reconheceu que “alguns profissionais podem confundir-se com a Covid-19 no momento do diagnóstico clínico, embora esta última seja aguda e a TB apresente processo prolongado, mas ambas podem levar a morte”. Os sintomas da TB incluem tosse (às vezes, com sangue), perda de peso, sudorese noturna e febre.
“Contudo, essa redução pode estar relacionada a diversos fatores, tais como: sobrecarga da rede de atenção à saúde para suprir as demandas Covid, a baixa procura da população aos serviços de saúde e erros diagnósticos pela similaridade de alguns sintomas entre TB e Covid, acarretando implicações significativas no diagnóstico laboratorial e tratamento”, argumentou a Secretaria da Saúde baiana em nota enviada ao Bahia Notícias.
O Ministério da Saúde, por sua vez, atrela outros pontos à queda das notificações. A pasta cita como exemplo o impacto nos determinantes sociais da TB durante a pandemia, como pobreza, desnutrição e más condições de moradia, e ressalta que esses fatores podem aumentar os riscos para o desenvolvimento da doença.
A Sesab ressalta que a transmissão a Tuberculose está intimamente relacionada a condições socioeconômicas e entre os fatores sociais mais significativos para a ocorrência destacam-se condições de moradia, acesso aos serviços de saúde e alimentação adequada.
Por fim, vale ressaltar que a Tuberculose é uma doença infectocontagiosa, prevenível, e com tratamento disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).