Coronel Lawand nega ter pedido intervenção militar a Mauro Cid

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‘Queria que Bolsonaro apaziguasse a nação’, disse o depoente na CPMI

Durante seu depoimento na CPMI do 8 de Janeiro, o coronel do Exército Jean Lawand Junior, ex-sub chefe de Estado Maior, negou ter pedido ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, para que o então chefe do Executivo decretasse uma intervenção militar ou Estado de sítio.

“Em nenhum momento falei sobre golpe ou atentei contra a democracia”, disse Lawand aos parlamentares. “Pedi que viesse alguma manifestação do presidente Bolsonaro para que as pessoas pudessem voltar para as suas casas. Queria que Bolsonaro apaziguasse a nação. Não atribuo ao ex-presidente os atentados de depredação, mas acredito que uma manifestação dele faria com que as pessoas que estivessem nas ruas retomassem suas vidas.”

Conforme noticiou Oeste, depois da vitória do presidente Lula, Lawand tentou convencer Cid a levar o plano de uma intervenção militar adiante. “O presidente não pode dar a ordem”, disse Cid, ao afirmar que Bolsonaro não daria ordem ao Exército e nem sequer assinaria alguma intervenção militar, pois, segundo Cid, não tinha o apoio do Alto-Comando do Exército.

“Pelo amor de Deus, que ele dê a ordem”, escreveu Jean, em 1° de dezembro de 2022. “O povo está com ele, cara. Se os caras não cumprirem, problema deles. Acaba o Exército se eles não cumprirem a ordem do ‘comandante supremo’. Faz alguma coisa, Cidão [Cid]. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder, vai ser preso. E, o pior, na Papuda. Não podemos ser racional, é emotivo.”

Coronel Lawand, que em 2000 foi instrutor de Cid na academia militar, admitiu aos membros da CPMI do 8 de janeiro que os manifestantes que estavam em frente aos quartéis-generais pediam intervenção militar.

Nas mensagens a Cid, Lawand diz que se o Exército fizesse algo iria “soar como golpe” e que, desse modo, Bolsonaro teria que “dar a ordem”. “Está nas mãos do presidente”, escreveu. Na CPMI, contudo, Lawand recuou e disse que a declaração de “soar como golpe” por parte do Exército foi “infeliz.

Em 1° de dezembro, Lawand começava a entender que Bolsonaro não faria nada e disse que “teria que ser pelo povo”. Pouco mais de um mês depois, a Praça dos Três Poderes foi invadida e vandalizada.

A Polícia Federal extraiu as mensagens do telefone de Cid, pois teve acesso aos aparelhos dele; de Gabriela Santiago Cid, mulher do tenente-coronel; e de Luis Marcos dos Reis, militar que trabalhou com Bolsonaro. Na ocasião, a polícia deflagrou uma operação que apura fraudes em carteiras de vacinação.

Em 7 de dezembro, o coronel envia outra mensagem a Cid em que cobrava a ordem de Bolsonaro. “Convença o ’01’ [apelido conferido a Bolsonaro] a salvar esse país”, escreveu. Cid, então, responde: “Estamos na luta”.

Três dias depois, Cid tenta acalmar o colega, dizendo que muitas coisas “estavam acontecendo” e que seria “uma coisa de cada vez”. Em 21 de dezembro, Jean parece receber a informação de que Bolsonaro não faria nada do que ele esperava. “Decepção, irmão”, escreveu. E Cid respondeu: “Infelizmente”.

Apesar de trabalhar no Escritório de Projetos Estratégicos do Estado-Maior do Exército, Lawand tentava destacar o tempo todo na CPMI que é um coronel simples e que não era “ninguém na fila do pão”. Na sessão do colegiado, os parlamentares governistas acusaram Lawand de mentir. Ele está sob juramento de dizer a verdade.

O ex-subchefe do Estado-Maior ainda ressaltou que nunca esteve no acampamento em frente ao quartel em Brasília, mas apenas dentro do QG. Quando questionado sobre sua concepção das Forças Armadas como Poder Moderador, Lawand disse que não tem opinião a respeito. Além disso, que se arrepende de algumas mensagens enviadas a Cid.

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