“O Brasil deve considerar limitar a produção e a exploração de petróleo”, essas palavras foram ditas pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, colocando-se em oposição aos próprios planos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de transformar o país em um dos maiores produtores de petróleo até 2029.
“Uma questão que terá que ser enfrentada é a dos limites, um teto para a exploração de petróleo. É um debate que não é fácil, mas que os países produtores de petróleo terão que enfrentar”, disse Marina Silva ao jornal britânico Financial Times.
O comentário da ministra reflete uma tensão nos esforços do presidente petista para se manter jogando nos dois lados do debate climático, realçando as questões ambientais do Brasil na proteção da ecologia crucial da Amazônia e ao mesmo tempo apoiando a perfuração de petróleo pelos benefícios econômicos.
Quem também está indo contra os objetivos de Marina, é o Ministério de Minas e Energia que estabeleceu a meta de aumentar a produção de 3 milhões de barris por dia do ano passado para 5,4 milhões até o final da década.
O Ministério de Minas e Energia e a Petrobras estatal querem aproveitar novos campos gigantes offshore para aumentar a produção de petróleo. O plano de energia tornaria o Brasil o quarto maior produtor do mundo,ficando atrás apenas do Irã, Canadá e Kuwait.
Para colocar o plano em prática, no início do mês, o Brasil se juntou ao grupo Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados), no entanto Lula insistiu que o status do país permanecerá como observador.
“O Brasil é um produtor de petróleo. Este é um debate que terá que ser feito, mesmo no contexto de guerras. Estamos comprometidos com a meta de triplicar a energia renovável. Mas tudo isso não pode ser feito se não discutirmos a questão dos limites de exploração”, disse Silva.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse ao Financial Times que não via “nenhuma contradição” entre as metas de petróleo e gás do país e sua aspiração de liderar a transição mundial para a energia verde e ainda disse que as receitas do petróleo ajudariam a financiar a transição.
Entretanto, o foco de Brasília em combustíveis fósseis tem causado um ceticismo internacional, especialmente por causa das cobranças de Lula de pedir regularmente às nações ocidentais que assumam um maior ônus financeiro para proteger a Amazônia e o meio ambiente global.
“O Brasil disse uma coisa, mas fez outra na cúpula COP28 [em Dubai]. É inaceitável que o mesmo país, que afirma defender a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus, esteja anunciando seu alinhamento com o grupo dos maiores exportadores de petróleo do mundo”, disse Leandro Ramos, do Greenpeace Brasil, para o jornal Folha de São Paulo.
A ministra do meio ambiente, Silva, acrescentou: “Não podemos desistir da transição energética. A segurança energética é necessária, mas também devemos pensar na transição. Ambas as coisas devem acontecer”.
Segundo o presidente Lula, o envolvimento do Brasil na Opep+ se concentraria em convencer as nações ricas em petróleo a investir em alternativas.
Mesmo com os avanços conquistados esse ano na redução de cerca de 50% do desmatamento ilegal na Amazônia, Marina Silva disse que não reivindicaria a vitória. “Temos metas setoriais. Não é apenas o desmatamento. Também é energia, indústria, transporte, uso da terra e agricultura. Todos esses têm metas de redução de CO₂”, disse ela. “Não podemos nos resignar aos resultados já alcançados porque, por melhores que sejam, eles precisarão ser melhorados”.
DIÁRIO DO PODER