Lacração de senador cearense diante do presidente do BC comparou Brasil aos Estados Unidos, para atacar Campos Neto
Aula do senador Cid Gomes (PDT-CE) sobre macroeconomia juros e inflação foi tratada como stand up comedy em seu Twitter. Foto: Pedro França/Agência Senado
Davi Soares
Ao tratar com desrespeito o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o senador Cid Gomes (PDT-CE) esgotou seu conhecimento de engenheiro civil para tratar da macroeconomia, e acabou confundindo causa e efeito, no debate de ontem (26) da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, sobre juros e inflação. A cena protagonizada pelo senador cearense que tentou dar aula com lousa e giz foi tratada como papagaiada na coluna Cláudio Humberto de hoje, e ridicularizada em comentários no Twitter do próprio Cid Gomes.
Antes da provocativa entrega de um boné do Banco Santander para pedir que Campos Neto se demitisse do cargo, e voltasse a atua no banco privado, a tentativa de lacração do senador comparou a disparidade de contextos econômicos do Brasil e dos Estados Unidos, para defender que a economia americana pratica 4,5% de taxa de juros, tendo inflação de 6,5% em 2022; enquanto o juros oficial brasileiro é de 13,75%, com inflação de 5,8%.
Na resposta a Cid, Campos Neto ignorou os ataques e, ao ressaltar que também se preocupa com os efeitos dos juros altos sobre a economia. Mas lembrou que o núcleo da inflação em 2022 no Brasil foi de 9,12%, com efeito das desonerações. Enquanto que os Estados Unidos passou por problema de deflação durante anos, com inflação basal muito mais baixa que a do Brasil. Por isso os americanos utilizaram outros instrumentos de política monetária, não apenas a alta de juros, por meio do quantitative easing, que resultou na reversão de títulos comprados à época em que o objetivo era produzir inflação nos Estados Unidos.
“Por isso, que o Brasil, às vezes, tem que fazer uma taxa de juros mais alta, para ter o mesmo efeito em termos de política monetária. Nós temos um mandato, que é dado pelo governo, e que é de perseguir a meta de inflação que é de 3%. E a meta secundária é de é de suavizar o ciclo e fomentar o emprego”, respondeu Campos Neto, a Cid Gomes.
Escolinha da confusão
Na mesma resposta a Cid Gomes, o presidente do BC ressaltou que não se pode confundir a causa e o efeito, no debate sobre juros, dívida e inflação. E lembrou que haverá descontrole se houver tentativa de fazer com que a Selic caia de forma artificial, citando que o único país que teve algum sucesso com tal medida foi o Japão, porque tinha um problema de deflação grande.
“Não é o Banco Central que faz a dívida ser alta. É a dívida alta que faz os juros serem altos. A mesma coisa acontece no banco. Quando você vai no banco e pede um dinheiro emprestado e sua dívida é muito alta, o banco cobra mais do que de uma pessoa que tem dívida baixa. É não é o BC que estipula esse juros. O juros é de mercado”, explicou o presidente do Banco Central, quando o ar professoral de Cid já havia sumido de seu semblante.
DIÁRIO DO PODER