CHUVA NA TERRA DO SOL

Destaque

Enchentes – charge de Duke | Cantinho Literário SOS Rios do Brasil

Para nossa imensa e ensolarada Bahia o ano não começou muito bem. Chuvas torrenciais estão causando imensos danos em mais de cem municípios baianos. Rios tranquilos de repente trasbordaram e invadiram as cidades. Coisa que não se via há muito tempo, ou que praticamente não se viu com a intensidade de agora.

Pessoas desabrigadas, bens materiais boiando nas águas barrentas e atriste realidade de constatar que, em poucos minutos, o resultado de anos de trabalho árduo está irremediavelmente perdido. Calamidade pública.

Sim, uma terrível calamidade pública, que não respeitou protocolos e tirou à força de casa muitos daqueles que há bem pouco tempo atrás estavam confinados em seus lares seguros.

A Natureza é muito mais forte e poderosa que qualquer determinação ou imposição humana. É detentora de seus próprios protocolos. Não admite por muito tempo o desafio dos que ousam enfrentá-la.

Quem constrói a beira de um rio, mais dia, menos dia, poderá compreender ou não, que poderia ter pensado melhor. Quem não acondiciona seu lixo diário em locais pré-determinados corre o risco de ver bocas de lobo transbordar com o excesso de detritos e ver as águas invadirem sua rua, calçadas e até suas casas. Em poucos minutos o que representou talvez a luta de toda uma vida, sucumbir em águas barrentas.

Com água não se brinca. Já dizia a vovó. Simples e sábias palavras de quem traz esse conceito de muito longe, de sua própria infância ou juventude. Porque os bons conselhos partem sempre da própria família. Dificilmente da rua e da experiência de desconhecidos. Mas sim da vivência dos mais idosos, ante a ousadia desafiadora dos mais novos.

Rios transbordarem e saírem de seus leitos naturais é muito normal. Anormal é tentar desafiar as leis da Natureza, que jamais repete uma lição dada da mesma forma. Por mais que pareça similar, é sempre diferente.

E, então, a chuva chegou à Terra do Sol. Chovendo forte e constante, como só a chuva sabe chover. Molhar os campos, fazer rios transbordarem e lembrar que água que mata a sede pode também afogar.

Guto de Paula – Analista da Política e das enchentes

Deixe uma resposta