O presidente Jair Bolsonaro (PL) iniciou, nesta terça-feira (8), uma nova série de visitas pelo Nordeste, reduto político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para inaugurações de obras de segurança hídrica.
Além das concretizações das obras, um dos objetivos do presidente é tentar atenuar a rejeição ao governo no Nordeste no ano em que tentará a reeleição ao Palácio do Planalto.
Nas primeiras semanas deste ano eleitoral, Bolsonaro tem intensificado as agendas externas ao Palácio do Planalto —antes, já passou por estados de Norte e Sudeste.
Na terça, o presidente foi a Salgueiro, no sertão pernambucano, fazer o acionamento das bombas de uma estação do eixo norte da transposição do rio São Francisco. Em seguida, passou pela barragem de Jati, no interior do Ceará, para a retomada da liberação das águas para o cinturão das águas do estado.
Bolsonaro deve pernoitar em Caicó, no sertão do Rio Grande do Norte, onde o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, tem vínculos familiares.
Na manhã desta quarta (9), o presidente sairá em direção a Jucurutu, na mesma região, para visitar a barragem de Oiticica e assinar ordem de serviço para construção da segunda etapa de pavimentação no município.
Ainda no estado potiguar, o presidente participa da chegada das águas do rio São Francisco ao Rio Grande do Norte, em Jardim de Piranhas.
Após participar de uma série de motociatas em 2021, o presidente desta vez deve participar de uma jeguiata, um passeio sobre jegues com aliados e apoiadores. O movimento está sendo articulado pelas redes sociais de grupos bolsonaristas.
Obra estudada para execução por Dom Pedro 2º, no Brasil Imperial de dois séculos atrás, a transposição foi iniciada em 2007, durante o segundo mandato de Lula.
A previsão inicial de conclusão era 2012, mas o prazo não foi cumprido. Passou por diversas prorrogações, com a primeira etapa sendo inaugurada somente em 2017, por Michel Temer (MDB).
O custo das obras também não ficou estático e saltou de R$ 4,5 bilhões para R$ 12 bilhões. Ao todo, são 477 km de canais de água.
Quando todas as estruturas e sistemas complementares nos estados estiverem em operação, cerca de 12 milhões de pessoas em 390 municípios de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte serão beneficiadas.
A transposição é apontada como diretriz para revitalização econômica do Nordeste pelo fato de ser a maior obra hídrica do país.
A paternidade da transposição do São Francisco é disputada por diferentes atores da política nacional. O embate mais recente começou quando Temer inaugurou um trecho da obra durante o seu governo, provocando reação dos petistas Lula e Dilma Rousseff.
Jair Bolsonaro, por sua vez, faz críticas aos ex-presidentes petistas por não terem concluído as obras da transposição.
O atual presidente alega em discursos, como fez em Salgueiro (PE) e em Jati (CE), que, mais importante que anunciar novas obras, é concluí-las. Já os adversários dizem que o presidente não tem agenda própria e usa a sobra de ativos dos governos anteriores.
A construção de obras para amenizar os efeitos da seca na região Nordeste deverá ser tema da campanha eleitoral deste ano.
O PT aposta no seu tradicional reduto político para ampliar as bancadas no Congresso Nacional, enquanto aliados do presidente Bolsonaro procuram diminuir as resistências do eleitorado nordestino ao mandatário.
A visita de Bolsonaro ao Nordeste começa cinco dias depois de ele ter se referido aos nordestinos como “pau de arara”. A expressão depreciativa foi usada pelo presidente após confundir a origem do Padre Cícero e pedir a auxiliares para confirmarem o estado natal do religioso.
“De que cidade fica lá?”, questionou o presidente a assessores que estavam na sala de transmissão. “Está cheio de pau de arara aqui e não sabem que cidade fica padre Cícero?”.
Na visita a Pernambuco, o presidente fez acenos ao ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, que é apontado como pré-candidato a governador ou a senador pelo estado nas eleições de outubro.
No Ceará, o deputado federal Capitão Wagner (Pros-CE) fez discurso e defendeu o governo Bolsonaro. Com o movimento, o parlamentar afastou especulações de que poderia flertar com o ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência.
Ligado a militares do estado, Wagner é desafeto político do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), também pré-candidato ao Planalto contra Bolsonaro.
Adversário político do presidente, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), presidente do Consórcio Nordeste, não participou do encontro. Aproveitou para fazer visitas a obras do Porto do Recife no mesmo horário, em contraponto a Bolsonaro.
Nesta quarta, no Rio Grande do Norte, Bolsonaro deverá estar acompanhado pelos ministros das Comunicações, Fábio Faria, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
A oposição potiguar tenta uma construção para que um dos dois saia candidato ao Senado em prol da unidade para enfrentar aliados do PT. Já a governadora Fátima Bezerra (PT) não deverá comparecer, segundo interlocutores.
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