Presidente contou em entrevista haver ficado com relógio presenteado em visita oficial
Relógio Piaget avaliado em R$ 80 mil e não declarado por Lula como presente à Presidência foi usado na campanha eleitoral de 2022. Foto: Ricardo Stuckert
Deborah Sena
A assessoria de imprensa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, resolveu se pronunciar diante da polêmica do relógio Piaget de R$ 80 mil que está sob posse do petista.
Diante das pressões por esclarecimento a respeito da origem do presente e a diferença de tratamento da pela Polícia Federal sobre o item em questão e as joias sauditas dadas ao ex-presidente, Jair Bolsonaro, o Planalto diz que o relógio não foi recebido como presente durante os dois primeiros mandatos presidenciais do petista.
O problema é que essa declaração contradiz a versão do próprio Lula a parlamentares: o acessório de luxo foi recebido durante o exercício do seu primeiro governo, em março de 2022.
A assessoria de Lula não revelou quando ele obteve o relógio nem quem foi o doador. Eles afirmaram que “tudo que o presidente recebeu na Presidência está catalogado conforme a legislação”.
No início de 2022, um relógio Piaget chamou atenção quando Lula o usou em um evento do centenário do PCdoB. Apenas agora, a equipe de Lula fornece uma explicação oficial sobre a origem desse item. Entre as declarações de Lula sobre presentes recebidos, também está um Cartier Santos Dumont, avaliado em R$ 60 mil.
Em julho de 2023, durante uma transmissão ao vivo, Lula afirmou que ganhou o Cartier em 2005 do então presidente francês Jacques Chirac. “Você sabe que esse relógio ficou perdido por 18 anos? Eu não sabia onde estava. Agora, que eu fui mudar, fui abrir a gaveta, e ele estava lá”, disse Lula.
Em 2016, o Tribunal de Contas da União (TCU) auditou o Cartier e o registrou como um presente da fabricante, e não de Chirac. Confusões sobre as características e origens dos dois relógios são frequentes nos debates sobre a incorporação de presentes ao acervo privado dos presidentes.
Bolsonaro argumenta que a União não exigiu a devolução dos relógios de Lula, sugerindo uma perseguição e ‘dois pesos, duas medidas’ no caso das joias.
A equipe de Lula afirma que o Piaget não tem relação com a Presidência. A situação do Cartier será analisada pelo TCU em agosto. Em 2016, o TCU ordenou a devolução de mais de 500 presentes incorporados ao patrimônio privado de Lula, exceto itens personalíssimos ou de consumo próprio. O Cartier, no entanto, não foi devolvido. Em 2023, a área técnica do TCU decidiu que Lula não precisa devolver o Cartier, pois o acórdão foi cumprido e não pode ser aplicado retroativamente. A área técnica reforçou que a incorporação de presentes de luxo é imoral.
Alguns ministros do TCU acreditam que a auditoria de 2016 deveria ter exigido a devolução do Cartier, pois presentes valiosos, mesmo que sejam personalíssimos, devem ser entregues à União. A área técnica também concluiu que o tribunal não deve deliberar sobre o Piaget, pois não há evidências de que o relógio seja um bem público da União.
DIÁRIO DO PODER