Foto: André Carvalho/ Ag. Haack/ Bahia Notícias
Ao chamar de “traíras” os deputados federais baianos que votaram a favor da PEC dos Precatórios, o governador Rui Costa criou uma celeuma desnecessária e que apenas acirrou os ânimos da base aliada. Rui pode ter as mais diversas razões para ser contrário à PEC, mas expor publicamente aliados é uma estratégia consagrada para colocar em risco as relações políticas. E, convenhamos, nesse jogo não há espaço para amadorismos.
Até aqui, o governador não fez um gesto público para diminuir a tensão. Os dois principais partidos aliados, PP e PSD, reagiram de maneira dura e usando os filhos de João Leão, Cacá, e Otto Alencar, Ottinho, para expor a relação. Caso fossem os pais, o rompimento poderia ser um caminho sem volta, algo que não seria benéfico para nenhum dos lados. Percebe-se aqui uma predisposição das legendas a não partir para o confronto direto. Porém tanto Leão quanto Otto são experimentados o suficiente para não terem sangue de barata.
A votação do Congresso Nacional não obedece exclusivamente a padrões partidários ou de alianças regionais. Os parlamentares votam de olho nos próprios interesses, mas também negociando com os interesses das bases. Desde há muito tempo que Rui era contrário a PEC, não por prejudicar a Bahia diretamente, mas por travar uma fonte de receita que ele já contava. O entendimento que permitiu a apreciação da matéria na Câmara foi um meio termo. O calote do governo federal seguirá existindo, mas não como previsto inicialmente. As concessões feitas podem não ser as ideais, mas foram assimiladas pelos deputados federais com anuência dos líderes locais, incluindo o governador. Eis que, após a votação, Rui se insurgiu e jogou os aliados a cova dos leões.
Era óbvio que ninguém engoliria a seco a pecha de Judas. Não por ser Rui a falar, mas porque o fogo amigo traz mais prejuízo do que a crítica de adversários. Acordado não sai caro, como ensinam os antigos, e Rui passou do ponto ao simular ter sido pego de surpresa. Com possíveis consequências de médio e longo prazo que podem prejudicar o próprio grupo político. Não ficou claro qual o objetivo da fala – se o governador vai argumentar que foi um arroubo momentâneo, por exemplo. Com PP e PSD ligeiramente insatisfeitos com a relação arranhada, o papel de bombeiro caberá ao entorno de Rui, já que ele não é muito afeito a recuos. Principalmente para evitar que o desgaste se prolongue após o segundo turno da PEC ou em outras matérias de interesse da base BolsoRui.
Todavia, é possível perceber que o café do governador começou a esfriar um ano antes da eleição do sucessor. Os sinais dos aliados foram dados numa tentativa de evitar que ele fique gelado desde agora. Ou Rui diminui o tom e evita gelo na xícara ou assiste a fervura aumentar ao ponto de arruinar o tal teodolito PT, PSD e PP. Em qual alternativa você aposta?
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