A conversão de Alckmin é uma forma de demência ainda não examinada

A POLÍTICA COMO ELA É
O ex-presidente Lula (esq) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), durante ato político em Natal (RN) - 17/06/2022 | Foto: Humberto Salles/Estadão ConteúdoO ex-presidente Lula (esq) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), durante ato político em Natal (RN) – 17/06/2022 | Foto: Humberto Salles/Estadão Conteúdo

Atribui-se ao músico Tim Maia a seguinte frase: “No Brasil, prostituta se apaixona, traficante vicia, cafetão tem ciúme, cristão é comunista, empresário é socialista, e oligarca se emociona”. Pode-se acrescentar no excerto que tucano vira petista. É o caso do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSC).

Desde que anunciou sua conversão ao socialismo para compor chapa com Lula, seu antigo rival nas eleições, Alckmin se tornou alvo de críticas tanto da esquerda quanto da direita em virtude de sua escolha inusitada. O colunista da Revista Oeste Augusto Nunes dedicou um artigo a essa personagem.

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“Alguém sabe de algum torcedor famoso do Vasco que, aos 70 anos, virou dirigente do Flamengo? Ou de alguém que fez algo parecido com o Palmeiras e o Corinthians, ou que trocou o Grêmio pelo Inter? Claro que não: uma coisa dessas só acontece com cérebros em pane, e é tão desonrosa quanto a capitulação sem luta. A mesma regra vale para o mundo político brasileiro, sobretudo depois que Lula dividiu o país em “nós” e “eles”. Em São Paulo, por exemplo, a aguda polarização entre petistas e antipetistas proíbe que um grão-tucano quase septuagenário abandone o ninho para adorar a estrela vermelha — ou que ocorra o contrário. Transformar-se em adorador do inimigo que abominou a vida inteira configura uma forma de demência ainda não catalogada por cientistas. É o que vem demonstrando a bizarra metamorfose de Geraldo Alckmin.

Acordos eleitorais, não custa reiterar, existem desde a primeira disputa pelo poder travada por homens das cavernas. Mais: como aliados dispensam compromissos do gênero, essa espécie de acordo só faz sentido quando se destina a unir indivíduos ou grupos divergentes. Mas um acerto entre forças até então desavindas, como ensinou Tancredo Neves, tem de ser feito em torno de princípios — e, portanto, exige concessões recíprocas. A conversão do ex-governador já quase setentão à seita que tem em Lula seu único deus ignorou essas verdades irrevogáveis — além de mandar às favas a ética, a moral e os bons costumes. Foi uma genuflexão abjeta, uma vigarice de ruborizar o mais debochado negociante de votos.”

REVISTA OESTE

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