Sob o atento olhar de Guto de Paula: ‘Questão de preservação’

Nossa História

Sob o atento olhar de Guto de Paula: ‘Questão de preservação’Guto de Paula

 

Acredito não ter conhecimento se o Centro Histórico de Barreiras já foi tombado como Patrimônio Histórico. Caso tivesse sido, construções mais modernas de discutível gosto não teriam sido edificadas naquele sítio. Não são, por assim dizer, exatamente feias ou mesmo bonitas, o fato é que se contrapõem com o contexto daquele local.

O velho Mercado às margens do Rio Grande tornou-se o centro das reuniões. Local onde nos fins de tarde, à noite e por grande parte da madrugada, quando ainda era possível nos sentimos livres, a boemia se reunia.

Chegou a pandemia, estabeleceram-se protocolos e tudo ficou deserto. Contudo, já se falava em um projeto que daria uma nova roupagem ao Centro. Foi apresentado e automaticamente contestado por todos que não apenas conhecem Barreiras, mas como esse povo se comporta em locais como o Centro Histórico. E garanto que não precisa ser feito muito. Basta apenas melhorar e adequar o espaço disponível a cada comerciante que opera no Velho Mercado. Considerando e priorizando o espaço disponível que hoje é visivelmente irrisório e insuficiente. E o Mercado tem um espaço interno muito grande e muito mal aproveitado.

Instalar em toda sua periferia um toldo de no mínimo três metros de largura, prevendo as intempéries e o próprio efeito do Sol, sempre abrasador. Locar duas conchas acústicas nos seus extremos para beneficiar os comerciantes de ambos os lados do prédio, organizar o estacionamento de veículos e o resto o povo faz o sempre fez, mas agora com mais condições de conforto e higiene. Considerando até hoje os músicos colocam seus caros aparelhos no chão como palcos de “cacete armado”, sujeitos a enormes danos.

Com mais espaço de trabalho os comerciantes terão melhores cozinhas, oferecerão instalações sanitárias a altura de sua clientela. Poderia até se estabelecer uma espécie de condomínio comercial onde todos se obrigariam a manter as condições do Velho Mercado sem alterar sua estrutura física externa.

Qualquer outro projeto, por mais inteligente que seja, que pretender transformar ou modificar radicalmente a forma como o povo tradicionalmente se adaptou, será temerário. Possivelmente um despropósito.

Antes de se pensar em radicais transformações é preciso, urgente e necessariamente, se considerar que cada espaço, cada calçada, cada ambiente do Centro Histórico representa para inúmeras pessoas, locais de marcantes lembranças.

Indiscutivelmente centenas de pessoas que hoje convivem juntas se conheceram ou trocaram olhares naquele local. Muitos já nos deixaram e essas considerações saudosas e históricas e que fazem a magia do Centro Histórico. Coisa que nenhum arquiteto, por mais genial que seja, não tem direito de apagar, transformar ou esconder. Será portanto, uma questão de preservação sem sublimação.

Por Guto de Paula.

Deixe uma resposta