DF registra 77 mortes e vacinação será ampliada para crianças de até 12 anos

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No ranking de incidência de casos do Brasil, a capital do país ocupa o primeiro lugar, com 3.647 notificações a cada 100 mil habitantes — são 102,7 mil casos. GDF pretende imunizar mais crianças. Hospitais e tendas, como a UPA de Brazlândia, continuam lotados

Raquel Azevedo com o filho Anthony: peregrinação em busca de atendimento d=para o filho, que está com sintomas de dengue há três dias -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Raquel Azevedo com o filho Anthony: peregrinação em busca de atendimento d=para o filho, que está com sintomas de dengue há três dias – (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O Distrito Federal registra 77 mortes por dengue em 2024, conforme informações do Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde, divulgado no fim da tarde dessa sexta-feira (1º/3). O número representa um salto de 45% em relação à quantidade de óbitos informada anteriormente, ainda nesta semana: 53. Além disso, há 60 óbitos em investigação e 102.757 casos prováveis. No ranking de incidência de casos do Brasil, o DF está na frente, com 3.647 notificações a cada 100 mil habitantes.
O Correio visitou, nessa sexta-feira (1º/3), a Unidade Básica de Saúde (UBS) 2 de Taguatinga e a tenda de hidratação de Brazlândia. Em busca do resultado do exame de sangue, que detecta a quantidade de plaquetas no corpo, o aposentado Décio Mesquita, 73 anos, chegou cedo à UBS. Ele contou que, apesar de estar se recuperando da infecção, ainda sente bastante fraqueza. Dos amigos, se recorda de três que estão com dengue; um está internado.
“No início da semana, vim consultar, tomar soro e fazer o exame. Lembro que cheguei cambaleando”, relatou. Esta é a segunda vez que é contaminado pela doença. A primeira vez, segundo ele, foi até tranquilo, assim como a infecção por covid-19, que teve em janeiro. “Não pensei que a reinfecção por dengue fosse tão ruim. Fiquei derrubado”, lamentou.
No espaço onde os pacientes aguardavam por atendimento, havia cerca de 12 pessoas, a maioria com máscaras. A autônoma Elisa Pereira, 54, precisava tomar soro e medicação, além de fazer o exame de sangue. Na última segunda, foi a primeira vez na UBS, pois estava fraca e teve desmaios. “Até que não demoraram para me chamar. Em vista do caos que está a saúde, o atendimento não foi ruim”, afirmou. Por trabalhar em casa, afirmou que mantém a prevenção. “Mas não depende só da gente, não é?”.
Superlotação
Uma servidora da saúde, que não quis se identificar,  informou que técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos têm enfrentado dificuldades nesta epidemia. “Não estão atendendo nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), então, mandam os pacientes para cá. Não estamos dando conta, o deficit de profissionais está muito alto”, alertou. Segundo ela, há muitos especialistas, principalmente médicos, pedindo exoneração. 
“O ‘postinho’, que se dedica à atenção primária, está virando um pronto-socorro. E, mesmo assim, no fim do dia, não sobra uma pessoa na fila de espera. Nos viramos para atender todos. Ao contrário do que muitos defendem, a privatização, como ocorre no caso das UPAs, não resolve o problema. Precisamos de novas contratações e remunerações melhores”, reivindicou. 
Na semana passada, o governador Ibaneis Rocha anunciou a contratação de 741 profissionais da saúde para reforçar o quadro de atendimento à população. Serão nomeados 200 médicos temporários, 180 técnicos de enfermagem, 156 enfermeiros, 115 agentes comunitários de saúde e 90 médicos especialistas, todos efetivos. “Irei assinar hoje o decreto para a contratação desses profissionais, isso tudo para reforçar o combate à dengue em nossos hospitais, nas nossas tendas, ajudando cada vez mais a população do Distrito Federal”, disse, à época.
Infecção
Na tenda de hidratação de Brazlândia, cerca de 30 pessoas aguardavam por atendimento. Em uma das cadeiras, estava Raquel Azevedo, 43, com o filho Anthony, 5, nos braços. O garoto está com sintomas de dengue há três dias, enquanto a mãe se recupera da infecção, cujo início se deu há sete dias. Com olhos cansados, a pedagoga contou que vivenciou uma peregrinação para tentar consultar o pequeno. 
“Na UBS, até atenderam, mas disseram que era gripe. Como os sintomas não passaram, levei ao hospital, porém, só conseguimos passar pela triagem. Disseram que só estão atendendo casos em que há risco de morte. Na UPA, não tem pediatria”, disse. Sobre a picada do mosquito, Raquel suspeita ter ocorrido nos arredores de casa. “Lá, tem muitos lotes abandonados, onde acredito que há acúmulo de sujeira e de água parada”, afirmou. 
Com a cabeça apoiada em uma cadeira, a estudante Maria Iasmin Sales, 18, foi à tenda fazer um teste rápido. Estava com dor na garganta, nos olhos e nas costas, febre e tontura. Chegou a fazer o teste para covid-19, na rede particular, mas deu negativo. Na UPA de Brazlândia, desmaiou na fila para a triagem, esperou 12 horas e não recebeu atendimento. “Falaram que não estão atendendo por conta da superlotação”. Dentro de casa, seis familiares tiveram a infecção. 
Próximos passos
Ibaneis Rocha afirmou, nessa sexta-feira (1º/3), que a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) estuda ampliar a faixa etária de vacinação contra a dengue para 12 anos para a próxima semana. A fala ocorreu durante agenda para a assinatura de ordem de serviço para reforma e ampliação do Hospital Regional de Brazlândia, localizado no Setor Tradicional.
“A Secretaria de Saúde está estudando a ampliação. Na próxima semana, a secretária (de Saúde) deve estar anunciando a ampliação da idade para que a gente utilize todas as doses que foram disponibilizadas”, destacou Ibaneis. Atualmente, o público-alvo para vacinação contra a dengue é de 10 e 11 anos.
A procura pelo imunizante está abaixo do esperado, segundo o Governo do Distrito Federal (GDF). Entre 9 e 27 de fevereiro, a SES-DF aplicou apenas 23.502 doses de vacina contra a dengue nas crianças de 10 e 11 anos. A quantidade representa somente 32,7% de participação da população que pode receber a imunização. O Ministério da Saúde disponibilizou 71.708 doses para o DF. Dessas, ainda há 48.206 disponíveis para aplicação. O GDF destacou que, como todo imunobiológico, a vacina da dengue também tem prazo de validade. O lote recebido vence no dia 30 de abril.
Durante o evento, a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, ressaltou que a pasta tem ainda um quantitativo alto na rede de frio central e na rede de frio nas regiões de saúde. “Já fiz a avaliação do número de crianças de 12 anos que nós temos no DF. É um quantitativo de 35 mil adolescentes, então nós temos que olhar para esse número e verificar que tem um percentual que quer vacinar. O que eu não posso é deixar a vacina na geladeira da rede de frio e ter uma faixa etária que queira se vacinar”, ressaltou.
Lucilene comentou ainda que a ampliação é alinhada com o Ministério da Saúde. “No dia 9 (de março), nós teremos 30 dias já de vacinação e eu tenho observado em todas as regiões de saúde um decréscimo da procura, exceto na região de saúde Sudoeste que tem se sustentado com essa procura”, disse a secretária. A região de saúde citada engloba Taguatinga, Samambaia, Recanto das Emas, Águas Claras e Vicente Pires.
A respeito da continuidade da vacinação no público de 10 e 11 anos, Lucilene ressaltou que não haverá alteração. “Vamos otimizar as doses que recebemos considerando a quantidade que eu tenho de 12 anos e o público que já procurou”, destacou. Além disso, o GDF reforça que, mesmo quem já está vacinado, deve continuar com os cuidados preventivos para que o mosquito transmissor não se prolifere. O DF conta com mais de 60 pontos de vacinação distribuídos pelas regiões administrativas. Para conferir todos os locais, basta acessar o site da Secretaria de Saúde.

CORREIO BRAZILIENSE

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