A evolução da fé no Brasil

Destaque

Joaci Góes

Para o amigo,  empresário e fundador do GACC – Grupo de Apoio à Criança com Câncer da Bahia, Roberto Sá Menezes!

Tomando o momento em que viveu Immanuel Kant(1704-1804), como marco divisor, o avanço do conhecimento entre o longo período da história humana, que o antecedeu, foi, significativamente, menor do que o acumulado no relativamente curto tempo de sua posteridade de pouco mais de dois séculos, até os dias correntes. Essa singularidade deu ainda mais vigor à sua lúcida conclusão de que o Homem está condenado a nunca se libertar de suas paixões políticas e religiosas.

De fato, mudaram os modos e os meios; na essência, porém, as religiões modernas que substituíram as crenças originais, amplamente apoiadas nos medos mais primitivos, continuam dando à maioria da humanidade, em graus variados, o conforto de um fundamentalismo religioso que prescinde do recurso mínimo à racionalidade para explicar o que nem a ciência nem a lógica mais desenvolvidas conseguem, constatação que levou o filósofo-antropólogo alemão Ludwig Feuerbach(1804-1872), autor, dentre outras obras de peso, d´A essência do Cristianismo, a concluir que o homem criou Deus à sua imagem e semelhança, dizendo que “Deus é a objetivação da consciência humana, criado a partir do sentimento de dependência que o homem tem diante da natureza.” Influenciado por Hegel, Feuerbach tem Marx e Freud entre os seus discípulos mais famosos.

No plano da repercussão da fé sobre o desenvolvimento da sociedade humana, o também alemão, Max Weber(1864-1920), aportou notável contribuição aos estudos da Filosofia, da Economia, do Direito, da Ciência Política, da interpretação da História, da Administração, além de destacado fundador da Sociologia e um dos seus maiores teóricos. Como desdobramento de seus estudos sobre a Sociologia da Religião, concluiu que a reforma de Lutero foi fator predominante no maior desenvolvimento dos países protestantes sobre os católicos, como já se podia constatar com o maior progresso material dos países protestantes, sobre os católicos, a exemplo dos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha.  Enquanto para o Catolicismo é mais fácil `um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico ganhar o Reino dos céus`, para o Protestantismo a riqueza é um merecido prêmio assegurado por Deus aos que mourejam no trabalho inteligente e disciplinado, em torno dos valores familiares. Enquanto os católicos priorizavam uma formação humanista, os protestantes preferiam a capacitação técnica, além de outras importantes considerações que fogem à imperiosa brevidade desta crônica.

O avanço do Protestantismo, no Brasil, vem se acelerando de modo tão acentuado que previsões há que apontam para uma perda de liderança do catolicismo, já nos próximos oito anos, em 2032, como se vê do artigo central de seis páginas da Revista Veja, da semana corrente, assinado pelos jornalistas Ricardo Ferraz e Maiá Menezes, registrando-se crescente aceleração das religiões evangélicas, neste início de Terceiro Milênio, com recordes anuais na atual gestão papalina. Hoje, enquanto os católicos representam 45% da população brasileira, os protestantes chegam a quase um terço. Para que o catolicismo perca a liderança, é inegável a contribuição conjunta do Presidente Lula e do Papa Francisco, na fase do envelhecimento ostensivo de ambos, irmãos siameses que têm sido na opção populista pela pobreza e defesa dos valores terceiro-mundistas.

O dogma da Infalibilidade Papal impede qualquer interferência externa que desonere o Santo Padre de encargos que podem ter passado a ser maiores do que suporta sua eventualmente declinante higidez física e mental. Dessa ambiciosa regra, que nivela os Papas a deuses, a maior vítima-algoz, até agora, foi o Papa Pio XII, denominado por alguns como o Papa de Hitler, tamanha é reputada sua responsabilidade, por omissão, no Holocausto, interpretação que vem impedindo sua canonização.

Por tudo isso, há quem repute condenável ingratidão o aparentemente imparável afastamento dos evangélicos brasileiros da base política de sustentação do atual governo que tanto tem contribuído para o declínio do catolicismo.

Os incondicionais fieis que resistem à tentação de abandonar o barco de sua fé anciã lamentam a iminente perda, pelo Brasil, do pomposo título de Maior País Católico do Mundo.

Tomara que o episódio venha a ser exemplarmente representativo da axiomática assertiva dogmática segundo a qual “Deus escreve certo por linhas tortas”.

TRIBUNA DA BAHIA

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