Presidente da Câmara é poupado de pressão de deputados por reação contra duas operações da PF em gabinetes parlamentares
Fora do foco da crise na Câmara, Arthur Lira encontrou aliados e eleitores, em Rio Largo (Foto: Reprodução/Instagram)
Davi Soares
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), fortaleceu sua imagem política junto aos seus redutos eleitorais com eventos de entregas de ações e anúncios de ao menos R$ 24 milhões em repasses para municípios de Alagoas, nos últimos dez dias, desde que duas operações foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para a Polícia Federal (PF) vasculhar gabinetes e endereços de opositores do presidente Lula (PT). As agendas de Lira para reforço de alianças no ano de eleições municipais não foram suspensas, enquanto senadores e deputados interromperam o recesso para a articulação de reações do Congresso Nacional contra o cerco à oposição.
Lira tem sido poupado de cobranças, após ignorar as duas operações deflagradas, no dia 18, contra o líder da oposição da Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), e na quinta-feira (25), contra o ex-chefe da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ). E após deixar claro nos bastidores que não vai defender os alvos das operações, aproveita a ausência de crise em seu estado, com o direcionamento das pressões para o presidente do Congresso Nacional e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
No dia da Operação Lesa Pátria, contra Jordy, Lira manteve o silêncio e divulgou na suas redes sociais o evento em que liberou R$ 20 milhões para pavimentar 49 ruas do segundo maior colégio eleitoral de Alagoas, Arapiraca, que é administrada pelo prefeito Luciano Barbosa, um ex-aliado histórico e partidário do rival do presidente da Câmara, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
“Assinamos a ordem de serviço destas obras em 28 de outubro do ano passado, ao lado do prefeito Luciano Barbosa. E hoje, menos de 3 meses depois, aquele ato simbólico de assinatura está caminhando a passos largos e se concretizando em ações efetivas para a população. Recursos público precisa ser aplicado com transparência e seriedade e Arapiraca, sob liderança do prefeito Luciano, cumpre esta missão com empenho. Seguiremos lutando em Brasília por avanços para os arapiraquenses”, exaltou Lira, ao divulgar o investimento no dia da operação contra Jordy.
Na quinta-feira, quando Operação Vigilância Aproximada contra Ramagem inflamou o clima de revolta de opositores do governo petista, Lira seguiu livre de cobranças, para entregar um trator e equipamentos para o Centro de Engenharia e de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Rio Largo (AL). Em outro evento no município que tem um dos maiores eleitorados do estado, ainda anunciou investimentos de R$ 4 milhões na cidade administrada por seu aliado Gilberto Gonçalves (PP). O prefeito chegou a ser preso e afastado em 2022, na Operação Beco da Propina, em que a PF apura desvios de R$ 12 milhões na saúde e educação do município.
Ontem (27), Lira foi ao Agreste de Alagoas, entregar um novo espaço de lazer e eventos, com investimentos de R$ 566 mil garantidos pelo presidente da Câmara, a Praça Multiuso Prefeito Ernesto Higino da Silva. E, enquanto transita entre os extremos do bolsonarismo e para uma maior proximidade com o governo de Lula, ressaltou a importância do aporte de recursos federais para avanços na infraestrutura dos municípios alagoanos.
“Em Brasília, trabalhamos pelas cidades de Alagoas tendo como meta apoiar as gestões em diversas frentes de atuação, sendo que a infraestrutura é uma delas”, destacou Lira, em Coité, administrado pelo prefeito Bueno Higino (PP).
No intervalo entre os registros de uma agenda e outra, no seu perfil do Instagram, Lira ainda viu margem para aproveitar a repercussão do reality show Big Brother Brasil, da TV Globo, para brincar sobre sua atuação política junto à população alagoana.
Cerco à oposição
Líderes de oposição na Câmara estão mobilizados contra o cerco do STF a opositores de Lula, no últimos dias. E, antes mesmo da operação contra Ramagem, já alegavam perseguição do Supremo, ao anunciar o envio de um pacote de medidas para o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), proteger suas prerrogativas de parlamentares.
Senadores de oposição também prestaram solidariedade a Jordy. E, após cobrarem, em carta aberta, a suspeição do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou as operações. Os parlamentares acusam o STF de estar “erodindo democracia”. E lideranças do Senado pressionaram, pessoalmente, o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, pela saída do ministro dos inquéritos que investigam os ataques às sedes dos Poderes da República, no 8 de Janeiro de 2023.
A matéria foi atualizada após a reportagem checar que Lira não esteve em Arapiraca, no dia da operação contra Carlos Jordy. Mas apenas divulgou imagens de evento antigo, para exaltar os R$ 20 milhões investidos na cidade considerada capital do Agreste.
DIÁRIO DO PODER