Ponto de vista: Instituições a serviço do ódio e da vingança

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                                                                               Por Joaci Góes

À empresária e amiga Lise Weckerle!

Os primeiros sete anos de vida, entre 1938 e 1945, vivi-os sob a ditadura Vargas, único período totalitário de nossa História, na Fazenda São Bento, em que nasci, no Município de Ipirá, aonde as notícias do que ocorria no Brasil e no mundo chegavam com atraso de semanas e meses. A dificuldade de comunicação existente conduzia a que tivéssemos um vasto universo de experiências emocionais, no plano político, consoante os diferentes brasis em que nos dividíamos.

No mundo super conectado em que vivemos, hoje, os grandes acontecimentos – nacionais e internacionais-, são compartilhados, quase que simultaneamente, criando, diferentemente do passado, poucas bolhas de opiniões por todos compartilhadas, predominando, não raro, um maniqueísmo que sufoca propostas alternativas, equidistantes dos extremos. Esse é, sem dúvida, o ambiente reinante no Brasil polarizado de nossos dias, a ponto de o chefe do novo governo haver anunciado, no início da gestão, e estar cumprindo, a promessa de apagar com gasolina o incêndio reinante, de modo que não há dia sem que não haja algo escabroso contra a estabilidade das instituições, mecanismo de neutralização e silenciamento de opiniões discordantes de uma engrenagem de poder que desborda dos padrões mínimos de decência para assumir-se, despudoramente, como guardiã da impunidade, da corrupção e das mais graves violências constitucionais contra os que as advertem.

Para dar continuidade à toada do ódio e da vingança, eleita como plataforma do conluio democraticida, em despudorada desenvoltura, o assunto dominante na mídia oficial, da semana corrente, tem sido a abertura de processo contra o ex-juiz e, hoje, senador Sérgio Moro, consoante autorização do STF, acolhendo pedido da PGR. Quaisquer tentativas de análise jurídica ou política, para concluir sobre os possíveis desfechos de mais esta quartelada do ódio e da vingança só valem como especulação lotérica, uma vez que, acima das leis, prevalece a vontade conjunta do Executivo e do Judiciário, coadjuvada pela omissão conivente do Legislativo, em troca de cargos e de emendas milionárias, e de outrora poderosas instituições como a Universidade, a Imprensa, a OAB e as FFAA, que vivem os seus piores momentos no apreço, na admiração e no reconhecimento da sociedade brasileira que delas tanto esperava. 

O destino imediato do Senador Sérgio Moro, portanto, depende, exclusivamente, da vontade dos nossos senhores de baraço e cutelo que atuam sem peias, sem ter que dar satisfação a ninguém, já que a lei é o que quiserem que seja. Nessa obscena singularidade, porém, reside o dilema dos donos do poder. Uma das mais admiradas personalidades brasileiras, de todos os tempos, pelo seu inédito destemor de levar à prisão o chefe do maior assalto aos cofres públicos de que se tem memória na história dos povos, a continuidade e crescendo das perseguições a Sérgio Moro poderão elevar o prestígio do seu nome na proporção e direção inversas às violências por ele sofridas. Por isso, crescem, dentro do Governo, as vozes que recomendam ignorá-lo, em lugar de transformá-lo num semideus de popularidade, com tudo para crescer como apoio valioso a todas funções eletivas, Brasil afora, e culminar ascendendo à Presidência da República, tendo em vista, também, a juventude dos seus 51 anos, o que lhe dá muito tempo para esperar. É muito provável que Sérgio Moro reedite, in pectore, a conclusão do Conde de Monte Cristo, personagem de Alexandre Dumas, no ápice das perseguições sofridas: Toda a sabedoria humana consiste na sabedoria de “ter fé e esperar.”    

Tribuna da Bahia 

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