A pergunta que se formula é: entre o nível de saúde da população do Brasil real e a de um Brasil imaginário, onde o acesso a saneamento básico fosse universal, ainda que proibida a prática da Medicina, em qual dos dois Brasis seria melhor a saúde geral do povo?
Segundo os dados colhidos e divulgados pela Oxfam-Oxford Committee for Famine Relief, ONG fundada na Inglaterra em 1942, em plena guerra, e tornada universal em 1995, enquanto no bairro de Higienópolis, em São Paulo, plenamente saneado, a longevidade média das pessoas é de 79 anos, no bairro popular de Tiradentes, na mesma São Paulo, em que é precaríssimo o saneamento, a média de vida cai para 54 anos.
Um cálculo matemático elementar evidencia, a partir desses dados, que no Brasil de nossos dias, onde é de 55% o percentual da população sem esse fundamental benefício infra estrutural, existe, ceifando, impiedosamente, vidas valiosas, a ação sorrateira e implacável de um mal equivalente a algumas covids, no auge de sua malignidade, sem que ninguém diga nada a respeito, em contraste com a pirotecnia verbal que vozeia os males que se sucedem no inacessível meio autóctone da pouco desbravada Amazônia.
Enquanto no mundo educado registram-se, com frequência crescente, bem sucedidos programas de resgate de mananciais extremamente poluídos pela desídia humana, a exemplo das águas do rio Tâmisa que banha Londres, hoje transformado em álacre e saudável espaço de lazer coletivo, constatamos, com tristeza, que todos os mananciais de nossa Região Metropolitana, seguindo o padrão dominante no Brasil, são fontes de males que os tornam impróprios para o uso humano. O fétido Rio das Tripas que atravessa Salvador, no sentido Oeste-Leste, seria um dos mais lamentáveis exemplos dessa culposa indiferença coletiva.
Há, porém, uma luz no fim do túnel. Referimo-nos à OSCIP Rio Limpo que se dedica, desde 2009, a restaurar a dignidade do Rio Joanes. Liderada pelo casal Maria Inês-Fernando Borba, ele economista, nascido às margens do Rio Grande, em Santa Maria da Vitória, Oeste da Bahia, a OSCIP vem contando com a colaboração de personalidades dos mais diferentes naipes sociais, como os líderes comunitários Geraldão da Bahia e Toinho de Portão, os pescadores Jonas, Mestre Touro, Clóvis Brito, Fumo, Carlos Nêgo, Dodô, Wilson, Cotôco, o constituinte Marcelo Cordeiro, o ambientalista Mauro Peltier, o jornalista José Cerqueira, a socialite Sônia Novis, Fernando Paes de Andrade, Genaro Carvalho, todos clamando contra a postura suicida de lançar as misérias do mundo rio abaixo, desde passantes, aos moradores ribeirinhos e às construtoras que se instalam às margens do regato agonizante.
É imperioso que todas as entidades civis se envolvam nesta guerra santa, a exemplo da OAB, do IAB, Rotary, Lions, Maçonaria, ACB, FIEB universidades públicas e privadas, para tornar a vitória da luta para salvar o Joanes o símbolo da resistência possível contra essa ominosa omissão coletiva. O IGHB coloca-se na vanguarda dessa guerra santa.
A recuperação do Joanes ensejará a criação de um slogan redentor: Sim! Nós também podemos, a ser usado por cada um dos movimentos de recuperação que brotar Bahia afora. As próprias FFAA(Forças Armadas) não podem ficar de fora desse saudável esforço coletivo, aportando, como exemplo, para promover uma saudável conduta civil as severas medidas de proteção ambiental utilizadas por elas em seus diários programas de trabalho. Só como metáfora é possível manter mentes limpas em ambientes dominados pela sujeira.
Como nota final, ainda que à margem deste comentário, não se registrou a mínima presença espontânea de frações do povo, com o apoio criminoso da grande mídia, na lamentável comemoração de um ano de ódio e de vingança, como anunciou o presidente que seria a essência do seu governo, na farsa totalitária que violenta o senso comum de dignidade democrática, perseguindo velhos e crianças, ao descarada e criminosamente confundirem uma legítima manifestação popular que degenerou em vandalismo, com uma tentativa de golpe de Estado, em 08 de janeiro.