Pautas importantes já estão previstas, como a segunda etapa da reforma tributária, que pretende alterar as alíquotas do Imposto de Renda
Governo enfrentará novo embate no Congresso com MP para compensar a desoneração da folha – (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
É inevitável que, após o descanso das festas e os tradicionais balanços feitos nessa época, o primeiro dia do ano seja o momento de vislumbrar o que se reserva para 2024. A constatação é que os próximos 12 meses serão de desafios sérios e intensos, tanto no Brasil quanto no mundo. Nos assuntos domésticos, três questões deverão mobilizar os esforços e as atenções. O principal: é ano de eleições municipais. Além da preocupação natural que a troca de comando das 5.568 prefeituras brasileiras traz, a polarização que a sociedade brasileira mergulhou nos últimos anos ainda segue extremamente acirrada. A transposição dessa tensão para o plano regional pode levar a uma pulverização de conflitos, com a agressividade exacerbada pelas rivalidades locais, trazendo consequências graves.
Além disso, a relação entre o governo federal e o Congresso deverá continuar de modo ambíguo, com estranhamentos de ambos os lados. O atrito mais recente — o envio de uma medida provisória para acabar com a desoneração da folha de pagamentos, a pedido do ministro da Fazenda, Fernando Haddad — deixou claro como será o ano. O texto foi mal recebido por deputados e senadores, que devem fazer jogo duro na negociação com o Executivo. O problema é que pautas importantes estão previstas, como a segunda etapa da reforma tributária, que pretende alterar as alíquotas do Imposto de Renda — tema de interesse de toda a população.
Por fim, a saúde deverá se impor como um tópico de atenção. O país deve enfrentar, nos próximos meses, um agravamento nos números da dengue. Em 2023, o Brasil bateu o recorde de mortes pela doença, com 1.079 óbitos confirmados pelo Ministério da Saúde, e poderá ter, em 2024, até 5 milhões de casos de dengue, segundo a secretária nacional de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel. A incorporação de uma vacina contra a dengue no calendário, para iniciar a aplicação a partir de fevereiro, traz certo alento, assim como o repasse de R$ 256 milhões para secretarias de saúde municipais e estaduais para o combate à doença, mas são ações ainda incipientes diante do tamanho do desafio.
Em termos globais, as guerras em andamento ainda vão causar apreensão e tensão, principalmente porque parecem longe de um desfecho. A invasão da Ucrânia pela Rússia, que prometia ser uma ação rápida de Moscou, está entrando em seu terceiro ano, com o temor de uma escalada que arraste os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o conflito e o uso de armas nucleares, crescendo a cada dia. Enquanto isso, o confronto entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, continua desafiando aqueles que buscam uma saída diplomática. Um cessar-fogo parece distante e, enquanto isso, a população civil sofre as graves consequências da guerra.
Além disso, o mundo deverá continuar lidando com transtornos ambientais cada vez mais severos, causados pela mudança climática. Enchentes provocadas por tempestades torrenciais deverão forçar centenas de milhares de pessoas a sair de suas casas. As ondas de calor provavelmente vão se intensificar, e a produção de alimentos enfrentará dificuldades, o que poderá causar uma elevação global nos preços das comidas. Os mais pobres — como sempre — serão os mais penalizados.
Por fim, em novembro, os Estados Unidos vão às urnas para escolher o seu líder. Tudo caminha para uma disputa entre o atual presidente, o democrata Joe Biden, e o ex-presidente, Donald Trump. O republicano ainda enfrenta acusações de ter facilitado a invasão do Capitólio, em Washington, em janeiro de 2021, o que pode acabar levando a uma retirada de sua candidatura pela Suprema Corte, e a uma batalha jurídica de resultado ainda incerto.
CORREIO BRAZILIENSE