MP investiga projeto chinês de investir R$ 9 trilhões na Paraíba

Destaque

Grupo chinês apresentou um projeto com investimento estratosférico, mas viabilidade é questionada

Print do vídeo de como seria a Mataraca do futuro Foto: Reprodução/Print de Vídeo das Redes Sociais

Um grupo chinês entrou na mira do Ministério Público da Paraíba por causa do anúncio de um investimento estratosférico a ser realizado em uma cidade de apenas 10 mil habitantes no norte paraibano. O local em questão é Mataraca, município onde investidores chineses prometeram construir um porto e uma “cidade do futuro” com um investimento de nada menos que R$ 9 trilhões.

O valor, na casa dos trilhões, realmente impressiona. A quantia prometida é quase o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em todo o ano de 2022 (R$ 9,9 trilhões). No entanto, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a empresa que promete esse megainvestimento, a Brasil CRT Construção de Nova Cidade Ltda, não tem site, telefone ou experiência prévia comprovada.

Outro dado que chama a atenção é o capital social informado pela empresa: R$ 800 bilhões. A quantia é quatro vezes maior que a declarada pela Petrobras. A Brasil CRT, segundo os dados registrados em seu CNPJ, tem sede em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e é comandada pelos chineses Jianing Chen e seu filho Ruotian Chen.

Em uma cerimônia realizada no último dia 11 de dezembro com prefeitos, secretários estaduais, representante do governo federal, padre e vereadores, os envolvidos no ambicioso projeto assinaram um protocolo de intenções. O evento contou com a execução dos hinos da China, do Brasil e até uma oração para abençoar o novo empreendimento.

Ao jornal Folha de S.Paulo, os representantes da Brasil CRT sustentaram que os valores estão corretos e que têm capacidade para construir o empreendimento monumental. O projeto, porém, tem sido questionado em alguns pontos.

Durante a cerimônia do dia 11, por exemplo, a empresa exibiu um vídeo do projeto que tem para o município. Nas imagens, a Mataraca do futuro aparece com inúmeros arranha-céus que a torna mais parecida com modernas metrópoles asiáticas do que com qualquer cidade brasileira.

Logo após a cerimônia, porém, o Jornal da Paraíba revelou que o vídeo mostrado na cerimônia era, na verdade, o projeto de um escritório dinamarquês para um distrito futurista em Shenzhen, no sul da China, onde estão as maiores empresas de tecnologia do país. À Folha, um dos administradores da Brasil CRT tentou explicar a situação e citou a existência de dois vídeos.

– [Havia dois vídeos] Mas o primeiro foi deixado acidentalmente em um laptop em um hotel, então só pudemos mostrar o segundo vídeo na reunião. Gostamos de algumas das novas ideias de design e estilos deles, e planejamos incorporar esses novos elementos em nosso design real de construção – declarou Jianing Chen.

Após a revelação do ocorrido, o consulado da China no Recife (PE), que atende a região, afirmou à imprensa local que desconhece a empresa e disse ter “motivo para acreditar que é uma fraude”. O vice-cônsul da China no Recife, He Yongwei, por sua vez, não falou em fraude, mas reiterou que “não possui informações” a respeito da empresa, nem sobre o projeto.

Diante do contexto, a promotora de Justiça da cidade paraibana de Mamanguape, Ellen Veras, resolveu instaurar “procedimento extrajudicial” para investigar o caso. O governador do estado, João Azevêdo (PSB), que teria uma reunião com o grupo no dia seguinte à cerimônia, desmarcou o encontro.

POSIÇÃO DA EMPRESA
Ao ser questionado pela Folha sobre como atrairia pessoas para a região, o diretor-executivo Jianing Chen pediu que a reportagem “amplie sua visão de mundo”. Já sobre o investimento de R$ 9 trilhões, Chen afirmou que, “quando o projeto começar, vocês vão ver quais consórcios de investidores estão envolvidos”.

Já sobre a experiência da empresa na área de construção, o diretor respondeu: “Os consórcios estão envolvidos em milhares de grandes projetos de construção internacionais. Quando você olha para baixo de um voo internacional, muitos dos grandes edifícios podem ter a presença do consórcio”.

PLENO.NEWS

 

Deixe uma resposta