Por JOACI GÓES
Aos queridos amigos Neide e Marcelo Nilo!
O vídeo gravado pelo Presidente da República para celebrar o Sete de Setembro último levou o pomposo título de Independência, Democracia e União, precisamente o oposto do que vem caracterizando o atual governo, marcado pela dependência, pela intolerância e pelo ódio. De suas intenções revanchistas, aliás, deixou fora de dúvidas o próprio Presidente, ao sustentar que foi eleito para se vingar e (verbo impublicável) dos que o puniram na Operação Lava-Jato. Do ponto de vista, porém, das conveniências da comunicação social, os assessores presidenciais merecem aplausos, pela oportunidade do texto e pela capacidade de convencer o Chefe do Executivo a dizer coisas adequadas ao seu elevado posto, na contramão do seu antecessor que se revelou o mais impermeável dos dirigentes à assessoria da sensatez, fator impeditivo de sua reeleição pelo maior percentual de vantagem da história do País. O aludido discurso de Lula integra o conceito do que se denomina “assimetria dos enunciados universais”, o mais famoso dos quais consiste na abissal distância entre a generosidade humanística do marxismo teórico e sua brutal prática, presente nas rotineiras e inauditas violências que superaram e continuam a superar as mais alucinadas ficções, como se viu na União Soviética de Stalin, na China, de Mao, no Camboja, de Pol Pot, na Cuba, dos Irmãos Castro, e como se vê, mais recentemente, na Coreia do Norte e na Venezuela. Bem o oposto do que se verifica na sociedade aberta, apoiada no estímulo ao dissenso, como mecanismo indispensável ao aperfeiçoamento das leis e dos costumes, para se chegar à compreensão do que seja o bem, a justiça e, sobretudo, a verdade, cada um em sua complexidade autônoma.
Governo, Mídia e Poder Judiciário uniram-se, no Brasil, para saciarem os seus apetites inferiores, usando como desculpa o dever de preservação da integridade democrática, ameaçada, segundo dizem, pelos golpistas de 08/01, um grupo majoritariamente constituído por crianças, mulheres e homens idosos, sem que a menor arma de fogo tenha sido encontrada na posse de qualquer deles. O relatório da CPI, já em sua fase final, não deixará dúvidas a esse respeito, assoalhando o que as pessoas inteligentes, independentes e íntegras já sabem à saciedade: Considerar o vandalismo de 08 de janeiro como tentativa de Golpe de Estado é a invenção mais ridícula na história dos povos.
A experiência revela que o combustível da prática política é feito mais de emoções e paixões do que de moderação e racionalidade, campo ideal para os discursos populistas, ainda que vestidos com a roupagem da serena reflexão e dos mais puros propósitos de melhorar o padrão de vida dos mais pobres. A proposta de Lula, porém, de tornar secreto o voto dos ministros do STF ultrapassou todos os limites da insensatez, como anatomizou em artigo o jurista Luiz Holanda. O deputado João Leão, por sua vez, resumiu numa frase o momento que atravessa o Brasil: “O Governo Federal vive de apagar incêndios”.
O vazio das ruas nesse Sete de Setembro ajusta-se como uma luva às pesquisas que evidenciaram a baixa aprovação popular do atual governo que tende a despencar quando a patuleia ignara se der inteira conta de que, pela voz soberana do Poder do Judiciário, a corrupção passou a ser entronizada no País como meritório princípio de conduta, assecuratório de que prisão continua sendo, no Brasil, coisa para pretos, pobres e putas pobres. Desgraçadamente, a atual expansão da violência, com a intensificação da audácia do crime organizado, é uma consequência natural dessa ominosa impunidade que rebaixa, ainda mais, a credibilidade do Brasil aos olhos do mundo.
A grande lição da história é que o totalitarismo, como todos os males, só prospera onde homens e mulheres de bem, racionalizam sua omissão, somando-se aos que vendem a honra para servir às forças do mal.
A crise de decência que vive o Brasil é tamanha que agride a sensibilidade moral e a honra do empresário, estadista e teólogo Fernandinho Beira-Mar.
Joaci Góes