Presidente participa de cúpula em Havana e encontro é encarado como “simbólico” para autoridades e parlamentares de esquerda
Lula, ao lado de Rosângela da Silva, a Janja, desembarca em Cuba para participar da Cúpula G77 China – (crédito: Yamil Lage / AFP)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nesta sexta-feira à noite, em Havana, na primeira visita de um chefe de Estado brasileiro a Cuba desde 2014. O petista vai participar da Cúpula G77 China e também há na agenda da comitiva brasileira promessa de acordos bilaterais, entre os quais, uma nova possibilidade de ajuda do governo para o incremento do controverso Porto de Mariel, construído com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Por conta, em boa parte, dessa obra, Cuba tem uma dívida com o Brasil na ordem de R$ 2,6 bilhões, que não está sendo paga. O governo cubano pediu às autoridades brasileiras que o país seja flexível na cobrança desse montante. Há expectativa de que Lula faça algum anúncio nesse sentido.
A eleição de Lula reaproxima não só o governo como a esquerda com Cuba. Na última quarta-feira, num dos plenários da Câmara, houve ato com representantes do governo, parlamentares da esquerda e diplomatas de Cuba, China, Coreia do Norte e Venezuela, o que seria impensado nos anos do governo Jair Bolsonaro.
Na reunião, foi reativado o Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Cuba, um país alvo de críticas do bolsonarismo e apontado pelo ex-presidente como uma das “ditaduras” veneradas por petistas, a exemplo da Venezuela e de outros. No encontro, os discursos eram de críticas ao embargo norte-americano a Cuba, que ocorre há 60 anos, elogios ao investimento do governo petista no Porto de Mariel e ataques à gestão de Jair Bolsonaro.
Coordenadora do grupo Brasil-Cuba, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) fez uma defesa enfática do fortalecimento da relação brasileira com o país e criticou a represália do governo dos Estados Unidos a empresas e países que fazem negócios com a ilha. Também afirmou que a gestão Lula vai “restaurar a imagem e a parceria com Cuba, que ficou numa área de sombra nos últimos seis anos”, se referindo aos governos Bolsonaro e Michel Temer (MDB). A também comunista Jandira Feghali (PCdoB-RJ) classificou o grupo Brasil-Cuba como “a frente parlamentar mais ousada desta Casa”.
Novo tempo
Representando o Ministério das Mulheres, a assessora especial da pasta Ana Maria Rocha citou diretamente o governo Bolsonaro e disse que Lula está retomando as relações internacionais com países diversos. “Felizmente, estamos num governo democrático, que restabelece relações internacionais com todos os países para recompor o desenvolvimento do país. A relação com Cuba tem um simbolismo muito grande, de um país alvo de preconceito. A reinstalação desse grupo faz parte desse novo tempo”, ressaltou.
O Itamaraty enviou o ministro Elio de Almeida Cardoso para o relançamento do grupo Brasil-Cuba. Ele é o diretor do Departamento de México, América Central e Caribe do Ministério das Relações Exteriores. O diplomata afirmou que a visita de Lula a Cuba é um marco e um “sinal inequívoco do governo brasileiro em reativar a agenda” com o país. Ele listou áreas potenciais de parceria entre as duas nações e citou a exploração do Porto de Mariel e conhecimentos de biofarmacêutica.
CORREIO BRAZILIENSE