Jornal carioca publicou editorial criticando a fala de um presidente que relativiza a democracia
Lula Foto: Ricardo Stuckert/PR
Nesta terça-feira (5), após declaração antidemocrática do presidente Lula (PT), defendendo que os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sejam mantidos em segredo, uma enxurrada de críticas ao chefe do Executivo tomaram conta das redes sociais e do noticiário. O jornal O Globo, por sua vez, divulgou um editorial condenando a declaração do político.
“Transparência nas decisões do STF é inegociável” é o título do artigo que, de cara, mostra o posicionamento do veículo de imprensa sobre o tema. O jornal torna evidente que a “sugestão de sigilo feita por Lula é incompatível com o papel dos tribunais numa democracia”.
A publicação observa que Lula indicou seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para ocupar uma cadeira na mais alta Corte do país, nutrido de esperança de que ele fosse satisfazer aos seus interesses, o que não não aconteceu em um primeiro momento. Deste desalinhamento político e ideológico com os progressistas, demonstrado nos votos de Zanin, Lula passou a ser pressionado por seus aliados para que enquadrasse o recém-nomeado ministro, o que pode ter motivado no presidente declarações como esta, objeto deste referido editorial.
– Se eu pudesse dar um conselho, é o seguinte: a sociedade não tem que saber como é que vota um ministro da Suprema Corte – disse Lula.
Para o petista, “o cara [ministro do STF] tem que votar, e ninguém precisa saber”. A fala, ainda que descabida, revela uma intenção ainda mais temerária: a de relativizar a democracia ao seu bel prazer.
– A sugestão de Lula não merece prosperar. Não é remédio para ataques e pode até acirrá-los, na hipótese remota de que vá adiante. A transparência nas decisões do Supremo é um valor que deve ser inegociável. Cada país tem sua forma de lidar com ela, mas nenhuma democracia pode pôr em questão a essência desse valor. A sociedade tem direito a saber como pensa e como vota cada ministro do Supremo. Nos Estados Unidos, as decisões da Suprema Corte são tomadas em reuniões fechadas, mas seus votos são públicos. No Brasil, as sessões do STF são abertas, e a leitura dos votos é transmitida pela TV Justiça – observou o editorial.
O texto conclui condenando a sugestão de Lula e advertindo que ela “vai muito além de tentar preservar a imagem do Supremo ou de impor regras para o uso da televisão”.
– É uma ideia incompatível com o papel dos tribunais numa democracia.
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