Esta é a maior mudança na liderança do esforço de guerra da Ucrânia desde a invasão da Rússia
Zelensky Foto: EFE/EPA/ UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE
O presidente Volodmir Zelensky disse neste domingo (3) que irá substituir o seu ministro da Defesa, na maior mudança na liderança do esforço de guerra da Ucrânia desde a invasão em grande escala da Rússia em fevereiro do ano passado.
O destino do ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, tem sido objeto de especulações crescentes na Ucrânia, à medida que as práticas financeiras no ministério vieram à tona e o governo iniciou investigações oficiais sobre a corrupção.
Zelensky disse num comunicado que Reznikov, que não está diretamente implicado na ampliação das investigações sobre o mau uso de contratos militares, será substituído por Rustem Umerov, presidente do Fundo de Propriedade do Estado da Ucrânia. Zelensky disse esperar que o Parlamento da Ucrânia aprove o seu pedido.
– Oleksii Reznikov passou por mais de 550 dias de guerra em grande escala – disse Zelensky num comunicado anunciando a sua decisão no domingo à noite.
– Acredito que o ministério precisa de novas abordagens e outros formatos de interação tanto com os militares como com a sociedade em geral.
Não houve comentários imediatos de Reznikov, que tem sido um dos rostos públicos da Ucrânia no cenário mundial. Ele estava entre o pequeno grupo de altos funcionários de segurança de Zelensky que permaneceram em Kiev, a capital, quando a cidade estava parcialmente cercada pelas forças russas após o início da invasão.
Reznikov foi elogiado por negociar a transferência de grandes quantidades de armamento ocidental doadas ao país. Ele supervisionou a expansão do exército e a sua transição de um arsenal de armamentos do legado soviético para sistemas ocidentais, mesmo quando a Ucrânia esteve sob ataque.
No entanto, o Ministério da Defesa foi acusado por uma série de alegações de má gestão da contratação militar e de corrupção neste ano, enquanto o seu orçamento aumentava durante a guerra. Cerca de 986 milhões de dólares (R$ 4,9 bilhões) em armamento contratado pelo ministério não foram entregues nas datas especificadas nos contratos, segundo dados do governo. Algumas entregas estão com meses de atraso.
Jornalistas investigativos ucranianos encontraram outros problemas em contratos militares, que sugerem enormes pagamentos indevidos de fornecimentos básicos para o exército, como ovos, feijões enlatados e casacos de inverno.
Reznikov disse que o ministério estava processando para recuperar o dinheiro perdido nos contratos de armas. Autoridades governamentais disseram que muitos dos problemas surgiram nos primeiros e caóticos dias da guerra. Dois funcionários do ministério – um vice-ministro e o chefe de compras – foram presos após relatos de ovos superfaturados.
Assim, os escândalos nos contratos alimentaram exigências de demissão de Reznikov. Durante semanas, Reznikov enfrentou questões sobre seu futuro durante coletivas de imprensa, dizendo que cabia a Zelensky determinar a composição de seu governo.
A corrupção tem atormentado a Ucrânia durante a maior parte da sua história pós-independência, mas melhorou ao longo da última década, de acordo com avaliações da Transparência Internacional. Zelensky fez campanha numa plataforma anticorrupção antes de ganhar a presidência em 2019, e os esforços para combater a prática foram amplamente reconhecidos como cruciais para os esforços da Ucrânia para se aproximar dos seus aliados ocidentais, incluindo as suas esperanças de aderir à União Europeia.
Nas últimas semanas, Zelensky intensificou as medidas contra a corrupção durante a guerra, despedindo todos os oficiais de recrutamento do país após escândalos de suborno e propondo uma lei que puniria a corrupção como traição sob a lei marcial.
Em maio, o chefe do Supremo Tribunal da Ucrânia foi detido numa investigação de suborno – o tribunal fixou a fiança em mais de 25 mil dólares (R$ 123.280,00) para um ex-vice-ministro da Economia acusado de desvio de ajuda humanitária.
Numa reforma anterior, Zelensky tinha demitido o diretor da sua agência de inteligência nacional e o procurador-geral, também na sequência de alegações de corrupção e má gestão.
*AE