ONU fala em “ebulição global” em vez de aquecimento global
Imagem do Sol em Zaragoza, na Espanha Foto: EFE/JAVIER BELVER
Este mês de julho foi o mais quente desde que se tem registros, com uma temperatura média de 16,95 graus Celsius, segundo alertou nesta quinta-feira (27) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), depois de receber dados provisórios do Serviço de Mudança Climática Copernicus da União Europeia (UE).
O dia 6 de julho também foi o dia mais quente já registrado, com temperatura média de 17,08 graus, e não só aquele dia, mas todos entre 3 e 23 de julho bateram o recorde anterior, que era de 16,8 graus, medido em 13 de agosto de 2016.
A média mensal de 16,95 graus, elaborada com dados dos primeiros 23 dias de julho (o Copernicus publicará os dados finais do mês em 8 de agosto), supera em muito o recorde anterior para um mês, que até agora era de 16,63 graus em julho de 2019.
– O clima extremo que afetou milhões de pessoas em julho mostra a dura realidade da mudança climática e antecipa o futuro – advertiu em comunicado o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, que destacou que diante desses dados “a necessidade de reduzir os gases de efeito estufa é maior do que nunca”.
Agir para prevenir o aquecimento global “não é um luxo, mas uma necessidade”, acrescentou o secretário-geral da OMM, enquanto o diretor de serviços climáticos da organização, Chris Hewitt, ressaltou em entrevista coletiva que, no ritmo atual, é provável que 2023 seja o ano mais quente da história, superando os números de 2016.
Os recordes são registrados em um momento de fortes ondas de calor na América do Norte, na Ásia e na bacia do Mediterrâneo, com graves incêndios nesta última região e em países como o Canadá, enquanto outros como a China registraram recordes nacionais de temperatura (52,2 graus em Turpan, no noroeste do país, em 16 de julho).
– As emissões antropogênicas (geradas pelo homem) são a causa final desses aumentos de temperatura – declarou Carlo Buontempo, diretor do Copernicus, que antecipou novos números recordes para os próximos meses de 2023.
LIMITES DE ALARME EXCEDIDOS
A OMM também alertou que as temperaturas médias globais na primeira e terceira semanas de julho ultrapassaram a média dos níveis pré-industriais (1850-1900) em 1,5 grau, o que é considerado o limite máximo para cumprir o Acordo de Paris e não conduzir o planeta a níveis catastróficos de aquecimento global.
No ano mais quente já registrado, 2016, as temperaturas médias ultrapassaram a média pré-industrial “apenas” em 1,26 graus.
A agência meteorológica das Nações Unidas prevê, dadas as tendências atuais, que há 98% de chance de que pelo menos um dos próximos cinco anos seja o mais quente já registrado e 66% de chance de que, pelo menos temporariamente, o limite de 1,5 grau seja excedido ao longo daquele ano.
Os recordes de julho, que chegam logo após o mês anterior ter sido declarado o junho mais quente já medido, acontecem em um momento em que o clima global é influenciado pelo fenômeno El Niño, geralmente ligado ao aumento das temperaturas em muitas regiões do planeta, após três anos de influência de La Niña, com efeitos inversos.
Além disso, as temperaturas da superfície dos oceanos estão em níveis excepcionalmente altos desde maio, o que, de acordo com a OMM, contribuiu para o mês particularmente quente de julho.
No último dia 19 de julho, a média dessas medições marinhas foi de 20,94 graus, a segunda maior registrada na história, apenas 0,01 grau abaixo da de 29 de março de 2016.
O MUNDO FERVE
Simultaneamente à publicação dos dados recordes, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou uma nova mensagem de alerta em Nova Iorque sobre os perigos da mudança climática, frisando que “acabou a era do aquecimento global e entramos na de ebulição global”.
– A mudança climática está aqui, é aterradora, e isto é só o começo – declarou o português.
Secretário-geral da ONU, António Guterres Foto: EFE/FRANCESCO AMMENDOLA / QUIRINAL P
Guterres salientou que, apesar da situação negativa, da qual “os humanos são os culpados”, “ainda é possível limitar a subida das temperaturas globais abaixo de 1,5 graus e evitar o pior da mudança climática”, embora para isso, destacou, “ações devem ser aceleradas”.
Nesse sentido, o chefe das Nações Unidas apelou para que se cumpra os compromissos de emissões líquidas zero, no caso das nações desenvolvidas antes de 2040 e até 2050 para as economias em desenvolvimento.
– Todos os atores devem se unir para uma transição justa e equitativa dos combustíveis fósseis para os renováveis, interrompendo a expansão do petróleo e do gás, além de financiar novos projetos a partir dessas fontes de energia e carvão – afirmou Guterres.
*EFE