A decisão da Prefeitura de Lisboa de “fazer uma limpa” nas principais avenidas da capital portuguesa para a visita do Papa Francisco, que participará, na primeira semana de agosto, da Jornada Mundial da Juventude, está dando o que falar.
Num primeiro momento, os sem-teto receberam um aviso de que tinham que retirar suas barracas e seu pertences dos locais que estavam ocupando até 12 de julho, quarta-feira. Aqueles que não atendessem ao comunicado seriam retirados a força.
Pois foi o que fez a prefeitura nesta quinta-feira (13/07), um dia depois de vencido o prazo. A ação de retirada dos mendigos começou pela Avenida Almirante Reis, que faz ligação entre vários pontos de Lisboa.
A ação foi flagrada por várias entidades que dão assistência à essa população vulnerável. Mas, apesar do apelo feito pelas instituições, a prefeitura, comandada por Carlos Moedas, não se intimidou, num contraste com o que prega o Papa Francisco.
Em 2016, o chefe da igreja católica criou o Dia de Proteção aos Pobres, que ele não verá na capital portuguesa. Como disse à agência Reuters, a sem-teto Rita Moreira, 48 anos, ela e outros moradores de rua foram “empurrados para debaixo do tapete”.
A prefeitura negou, de forma veemente, que a retirada das barracas de moradores de rua das principais avenidas de Lisboa tenha a ver com a participação do Papa na Jornada Mundial da Juventude. Segundo o órgão, as pessoas estão sendo levadas para abrigos enquanto obras de melhorias na cidade estão em andamento.
O número de sem-teto em Portugal aumentou muito nos últimos dois anos, devido à disparada da inflação e, sobretudo, dos aluguéis. Muitas famílias não tiveram mais condições de honrar os compromissos com os donos dos imóveis e foram despejadas.
Para se ter uma ideia de como os preços dos aluguéis subiram, o arrendamento de um quarto, sem banheiro privativo, está custando entre 700 euros e 800 euros em Lisboa, ou seja, entre R$ 3,8 mil e R$ 4,4 mil. Isso em um país em que o salário mínimo bruto é de 760 euros (R$ 4,2 mil).
Patrícia Lemos, do programa Vou Morar em Portugal, afirma que os valores dos aluguéis no país europeu estão tão absurdos, que, mesmo nas regiões mais remotas, uma família não vive com o salário mínimo se tiver de arrendar um imóvel.
CORREIO BRAZILIENSE