Ponto de Vista: Avançamos na compreensão do grande significado do Dois de Julho

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JOACI GÓES

Ao querido amigo Ernesto Marques!

Em razão do baixo nível educacional do povo brasileiro, é muito pequeno o percentual dos que sabem que foi na Bahia, em 02 de julho de 1823 que se consolidou o processo de Independência do Brasil que, iniciado com a transferência da família real de Portugal para o Rio de Janeiro, em 1808, encontrou em D. Pedro I, a 07 de setembro de 1822, a voz de sua épica proclamação. Até mesmo entre os baianos, é, também, muito reduzido o número dos que têm consciência dessa memorável página de nossa história, vendo no concorrido e festivo desfile do Dois de Julho, apenas, uma ocasião, a mais, para a prática de patuscadas e esbórnias, regadas a redobrados eflúvios etílicos.

De fato, o heroico episódio protagonizado pelo povo baiano, aqui tomada a expressão no seu sentido mais denso e verdadeiro, é estudado pelas academias militares dos países mais avançados como uma das conquistas militares em que as forças armadas receberam a mais intensa e destemida colaboração da sociedade civil, por cada um dos seus segmentos, imbuídos de saudável espírito nacionalista, com a destemida militância de todas as etnias, homens e mulheres,
empresários, magistrados e populações nativas. Ressalte-se o espírito patriótico de negros, inclusive os escravizados, ao lado de nativos, todos eles alvos da ação predatória do colonizador europeu, cheios de legítimos motivos, portanto, para não tomarem partido numa disputa entre seus opressores.

Essa complexa singularidade levou a sociedade baiana, pós Dois de Julho de 1823, a erigir essa data ao pódio de sua extremada devoção, a ponto de merecer todo um livro da fecunda historiadora baiana Lizir Arcanjo Alves em que demonstra como se tornou prática comum entre as personalidades mais marcantes da Bahia, produzir texto laudatório à magna data, como passaporte para o reconhecimento de seu valor intelectual. Desse imperativo, resultou a Ode ao Dois de Julho, de Castro Alves, o mais empolgante poema heroico da língua portuguesa, depois de cinco tentativas, reputadas pelo condoreiro aedo abaixo do prestígio da portentosa efeméride.

O trabalho que vem sendo desenvolvido pelos setores públicos e privados tem contribuído, de modo decisivo, para restaurar, pelo menos em parte, o antigo e legítimo orgulho dos baianos pela vitoriosa audácia dos seus avoengos. O Seminário que o Departamento de História do Exército Brasileiro está realizando no curso da semana corrente, em parceria com a Marinha do Brasil e o IGHB- Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, com palestras de renomados historiadores e visitas aos sítios de mar e de terra, onde se travaram as lutas pela Independência, eleva esse esforço coletivo, a ser continuado até o fim do ano em curso.

Como se não bastasse ter sido a Bahia o berço de nossa Marinha e de nosso Exército, aqui receberam o seu batismo de fogo o gaúcho Joaquim Marques Lisboa, futuro Almirante Tamandaré, Patrono da Marinha Brasileira, então, um mero grumete, com, apenas, 15 anos de idade, e o fluminense Luis Alves de Lima e Silva, então tenente, antes de completar vinte anos de idade, futuro Duque de Caxias e patrono do Exército Nacional, integrando as tropas comandadas pelo seu tio, o Coronel José Joaquim de Lima e Silva. Como nota de coroamento da grande festa cívica, o Governo do Estado, ao lado de outras importantes ações, constantes de programa específico da Secretaria de Cultura,liderada pelo jovem Bruno Monteiro, ficou com a responsabilidade de assegurar, como ápice das festividades, a presença no céu de Salvador e da Baía de Todos os Santos, da Esquadrilha da Fumaça, da nossa Aeronáutica, em suas apaixonantes acrobacias aéreas.

É claro que a maior homenagem ao Bicentenário da Independência será a restauração do nome Dois de Julho do nosso velho e, atualmente, moderno Aeroporto, com a vantagem adicional de retirar da memória do talentoso político baiano, Luis Eduardo Magalhães, o peso de uma mudança de que não teve a menor culpa.

JOACI GÓES

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