Guerra na Ucrânia: como motim do grupo Wagner eleva pressão sobre Putin

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Disputas internas entre o grupo Wagner e o ministério da defesa da Rússia sobre como a guerra na Ucrânia foi travada vinham ocorrendo há meses

A implantação de tropas do grupo Wagner em uma grande cidade russa é um desafio para o presidente Putin — Foto: REUTERS via BBC

Yevgeny Prigozhin chama de “Marcha da Justiça”. Vladimir Putin diz que é uma “fuga criminosa” e um “motim armado”. Um alto comandante russo chamou isso de “um golpe”.

Como quer que se seja chamado, o chefe do grupo Wagner fez tudo para tentar derrubar a liderança militar da Rússia.

A ação vinha se formando há algum tempo. Durante meses, houve disputas internas muito públicas entre Wagner e o ministério da defesa da Rússia sobre como a guerra na Ucrânia foi travada.

Prigozhin repetidamente acusou o ministério de não fornecer munição suficiente ao grupo mercenário (e de fazer isso de propósito).

Ele tem sido cada vez mais vocal em suas críticas ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e ao chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov.

Criticar é uma coisa. O confronto armado é outro.

Prigozhin afirma que o ministério da defesa começou com um ataque de míssil na sexta-feira em um acampamento base do grupo Wagner. As autoridades russas negam que isso tenha acontecido. Eles chamam essa história de “uma provocação de informação”.

Um golpe ou algo diferente?

Se é uma tentativa de golpe de Estado, então não é tradicional.

Em seus discursos nas redes sociais, Prigozhin teve o cuidado de não criticar o presidente Putin ou o governo russo.

Ele sempre enfatizou que sua rixa é com a liderança militar, não com o Kremlin.

Mas isso é de pouco consolo para o presidente Putin. Uma insurreição armada por um exército privado russo (especialmente um que deveria estar lutando ao seu lado) não reflete exatamente bem no homem no topo – o presidente e comandante-chefe.

É por isso que Vladimir Putin precisava fazer o discurso que fez à nação na manhã de sábado – para convencer os russos de que ele ainda está no controle.

Pelo que parece, não haverá conversa tranquila no Kremlin com Prigozhin para acalmá-lo.

O discurso do presidente Putin foi repleto de referências à “traição” e à Rússia ter sido “esfaqueada pelas costas”.

Ele prometeu uma “resposta dura”.

Fácil de dizer. Muito mais difícil de fazer.

O presidente Putin quase certamente contará com o apoio de comandantes russos de alto escalão. Alguns já condenaram publicamente as ações de Prigozhin.

O que está menos claro é o clima atual nos escalões inferiores do exército. Até que ponto as críticas de Prigozhin aos chefes militares exerceram influência?

Vendo o presidente fazer seu discurso na TV, tive uma forte sensação de déjà vu.

Lembrei-me do discurso dramático que ele fez exatamente 16 meses atrás, quando anunciou o início de sua “operação militar especial” – a invasão em grande escala da Ucrânia.

Era um Vladimir Putin muito diferente naquela época.

Ele parecia extremamente confiante na vitória.

Essa foi uma operação que as autoridades russas esperavam terminar em dias, algumas semanas no máximo.

Mas não foi nada de acordo com o planejado. A guerra da Rússia não só levou à morte e destruição em larga escala na Ucrânia. Isso provocou instabilidade dentro da própria Rússia.

E isso levou aos dramáticos eventos que estamos testemunhando agora com Prigozhin e seus lutadores de Wagner.

Os acontecimentos recentes criam outra grande dor de cabeça para o Kremlin.

O presidente Putin não está apenas travando uma guerra na Ucrânia.

Ele agora tem que lidar com um motim em casa.

G-1

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