Ponto de vista: Uma discriminação histórica 

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Joaci Góes

Para a querida amiga Viviane Catão! 

        A reação do mundo civilizado às ofensas raciais dirigidas ao jogador brasileiro de futebol Vinícius Jr ganhou mundo, numa extensão e intensidade, de tal modo sem precedentes, que promete reduzir, expressivamente, os frequentes  ataques, dessa  natureza, contra atletas negros. Louve-se, de logo, a serena ainda que enérgica firmeza do excepcional jogador do Real Madri, sério concorrente a ser reconhecido como o melhor do mundo, nascido no município de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, ao lidar com a momentosa questão. Registre-se que o Real Madri, como a Federação Espanhola de Futebol, a FIFA, a própria ONU e diferentes chefes de Estado, além de personalidades dos mais distintos naipes sociais, têm sido unânimes na condenação de tão ignominioso preconceito.  Ao longo da história, as quatro maiores fontes de conflitos humanos têm sido entre homens e mulheres, entre classes sociais, entre etnias, impropriamente denominadas de raças, e entre religiões. De todas elas, a que mais rebaixa os ofensores na avaliação geral é a de natureza racial, por se originar de um conjunto negativo de atributos como a arrogância, a estupidez, a ignorância e a honradez dos ofensores. 

No caso em tela, somos tentados a avançar na especulação de que a mão do destino decidiu conferir ao talentoso jogador brasileiro um protagonismo que lhe resultará numa celebridade adicional à futebolística, reconhecida por gregos e baianos. Esse protagonismo consiste em elevar a discriminação contra os afrodescendentes a um patamar de inaceitabilidade universal, com a adoção de penas severas, acrescidas de um unânime e infamante repúdio aos seus autores, alcançados pelo labéu de párias da dignidade humana. 

A verdade que não admite calar é que o fator que porá fim, em caráter definitivo, a esse que é o mais oprobrioso dos preconceitos, será o acesso a educação de qualidade às populações negras, em geral. Para demonstrar a tese, basta mencionar, no caso brasileiro, alguns nomes de negros ilustres que ocupam lugar de relevo no panteon dos grandes da pátria, a exemplo de Machado de Assis, o maior de nossos literatos, o romancista Lima Barreto, os poetas Cruz e Sousa e  Gonçalves Dias, o abolicionista  Luis Gonzaga Pinto da Gama, os engenheiros Theodoro Sampaio, André e Antônio Rebouças, o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos, o psiquiatra Juliano Moreira, entre os mortos; entre os vivos, basta mencionar  o Ministro do STF, Joaquim  Barbosa e o jurista, ex-prefeito e atual vereador de Salvador, Edvaldo Britto. 

O grande problema consiste na manipulação eleitoreira das populações iletradas, ignorantes de que na sociedade do conhecimento em que estamos imersos, a educação é o grande fator de desenvolvimento das pessoas e dos povos, o caminho mais curto entre a pobreza e a prosperidade, o atraso e o desenvolvimento, o estágio de barbárie em que já nos encontramos e o patamar civilizatório que todos aspiramos. 

A experiência universal comprova que não há superioridade intelectual entre as diferentes etnias. Basta mencionar o elevado grau de competitividade dos afrodescendentes nos mais variados campos do conhecimento, sempre que tiveram acesso a adequada escolaridade, valendo destacar que em matéria física eles superam as demais etnias, de que são exemplos os mais diferentes esportes em que é marcante sua superioridade. 

Pensamos que o momentoso caso de discriminação de Vini Jr vai acelerar  essa vitória essencial para a boa convivência do bicho homem em sociedade. 

Joaci Góes

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