CEM DIAS

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A sensação de que fizeram uma grande festa e agora espalhados pelo salão ou jogados ao chão estão os copos e as latas vazias, os tocos de cigarro os guardanapos de papel amassados e todo aquele vazio característico, depois que quase todos foram embora.

Quase todos, porque os músicos ainda desmontam seus equipamentos e nas suas feições extenuadas revelam o cansaço de mais uma noite perdida. E aqui e ali alguma dama que chegou deslumbrante já tirou os sapatos e estirada em um enorme sofá, já perdeu boa parte de sua compostura.

Muitos minutos para acertar o nó da gravata e agora a sensação de liberdade ao desatar aquela forca elegante que antes faria muita diferença. Agora pende no pescoço como uma cobra estirada e morta. Fim de festa é assim mesmo… 

Foi de fato uma grande festa, um verdadeiro tributo aos vencedores.

Aos derrotados, coube apenas desmontar as barracas, juntar as tralhas e pensar que poderiam ir para casa. Até que poderiam se não fossem conduzidos para um campo de concentração. Lá onde os horrores estavam à sua espera.

Cem dias, sem esperança. Esquecidos dos que um dia cantaram juntos os mesmos hinos e de joelhos rezaram por dias melhores. Parecia até que todos eram irmãos e que comungavam dos mesmos ideais.

Que ledo e triste engano acreditar que estavam protegidos e que a então mais respeitada instituição do país abraçaria a causa. Foram todos traídos, roubados, vilipendiados e presos porque nesse novo desgoverno, a ética, a moral e a dignidade não são mais virtudes. O discurso de ódio agora é pura ação, revanchismo e vingança e não resta dúvida que cada dia futuro será bem pior.

Guto de Paula

Redator da Central São Francisco de Comunicação

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