Ao casal amigo Jaqueline e Jutahy Magalhães Jr!
Joaci Góes
Na intensamente badalada personalidade do ex-juiz, ex-ministro e atual senador Sérgio Moro, o mais inegável dos seus atributos é o lugar de excepcional relevo que lhe está reservado no Panteon de nossa História.
De fato, não há memória em nosso País de um juiz singular que tenha elevado tão alto o significado e prestígio da magistratura como uma profissão a quem a sociedade confere poderes quase divinais, tão grande é a influência de suas decisões sobre a vida de cada um de todos os cidadãos. Ainda que por breve tempo, com Sérgio Moro, prisão deixou de ser destino exclusivo para pretos, pobres e putas, no Brasil. Se erros cometeu, como alguns o acusam, fê-lo na companhia de pares mais graduados do que ele próprio, como desembargadores federais e ministros do STJ que confirmaram os seus vereditos, inclusive a maioria da Suprema Corte que negou acolhimento ao pedido de habeas corpus impetrado em favor de um então ex-presidente da República, por ele condenado à prisão.
Entre os ataques pessoais que Sérgio Moro vem sofrendo, acrescidos de insultos do mais baixo nível e, até, de conluios criminosos para roubar-lhe a vida e a de membros do núcleo mais próximo de sua família, a explícita declaração do atual Presidente da República de que sua prioridade maior é vingar-se dos que o encarceraram, com prioridade para o Senador Moro, contra quem tem o propósito de realizar o que não podemos escrever, o mais provável é que o alvo final de sua confessada iracúndia seja o povo brasileiro, o que já começa a ocorrer, com as contínuas quedas de desempenho da economia nacional, com os mais carentes sendo os mais duramente atingidos. Não conhecemos caso explícito de tamanha perda de decoro num chefe de estado, em ambiente democrático, que não tenha resultado em seu afastamento. Eventualmente, quando derivado de demência, como, para alguns, seria o caso, o afastamento se imporia por dever de caridade para com o errático autor e imperiosa proteção dos interesses pequenos, médios e grandes da infeliz sociedade, palco dos aberrantes destemperos. Como um minúsculo exercício dos prejuízos que a perda da compostura presidencial acarreta ao Erário de um povo de maioria pobre como o brasileiro, basta calcular os gastos, doravante, com a necessária proteção da vida das pessoas explicitamente ameaçadas pelas mais perigosas organizações criminosas, cujos chefes se encontram presos pelo cometimento de crimes hediondos.
É claro que a maioria das ofensas sofridas pelo hoje senador Sérgio Moro deriva da inveja que o seu crescente prestígio nacional e internacional desperta em personalidades de baixo calibre moral, que se sentem apequenadas com o prestígio de popstar usufruído pelo corajoso e popular membro do Senado da República.
Infelizes são as sociedades que têm, entre os que as dirigem, personalidades que possuem latrinas em lugar da boca, de tal modo disseminam a discórdia e o ódio quando se dirigem a elas.
O que vem sucedendo no Brasil, cada vez mais acentuadamente, parece corroborar o antigo receio manifestado, faz anos, nas páginas da revista Veja, pelo conhecido articulista Roberto Pompeu de Toledo, ao dizer que a sociedade brasileira, por sua maioria, estava, perigosamente, evoluindo de uma posição de tolerância para com a corrupção, para se constituir, em si mesma, numa sociedade corrupta.
Desgraçadamente, já chegamos a esse lamentável destino.